Por: Daniela Diniz

Diretora de Conteúdo e Relações Institucionais

Por: Daniela Diniz

Diretora de Conteúdo e Relações Institucionais

24 junho, 2019 • 9:15

O futuro já começou. Bem, essa é a frase que ouvimos e lemos quase todos os dias pelos menos nos últimos dez anos. Afinal, novas gerações entraram no mercado de trabalho, a população grisalha tem aumentado, as startups vêm ditando um novo ritmo de trabalho e a tecnologia — ah, a tecnologia — tem acelerado muito todas as mudanças organizacionais. Como consequência, as empresas começam a mostrar uma nova cara, pautada em uma nova gestão de pessoas e rompendo velhas práticas de mercado. Será?

Foi com essa dúvida que o Great Place to Work e o Grupo Cia. de Talentos desenvolveram em parceria a pesquisa Empresas do Futuro. Com análise de 246 empresas que participaram da primeira pesquisa, chegamos à conclusão de que existe uma enorme lacuna entre o discurso sobre o futuro do trabalho e a prática vivida pelas organizações. Em resumo, há muita reflexão sobre o tema, muitos eventos, workshops e teorias, mas pouca atitude.

A pesquisa foi pautada em cinco pilares de investigação: modelo de negócio, modelo de trabalho, branding, equipes e cultura de aprendizagem. Em nenhum dos pilares, tivemos uma grande proximidade entre o que ouvimos e lemos sobre futuro do trabalho e a prática exercida pelas empresas. Ao contrário. Em algumas questões chegamos a nos surpreender – e muito – com as respostas encontradas. A começar pela estrutura organizacional, tema que nos últimos dez anos vinha – aparentemente – revolucionando o mundo corporativo. Afinal, o discurso sobre a derrubada de paredes, mesas coletivas e lugares não demarcados ganhou espaço, adeptos e várias páginas na mídia. Percebemos, com a nossa pesquisa, que o barulho foi maior que a ação.

Da nossa amostra, 31% das empresas ainda mantêm salas individuais para a alta liderança e outros 35% separam os líderes do restante da equipe. Apenas 24% distribuem o mesmo espaço para todos os funcionários, independentemente do nível hierárquico. E aquele papo de sentar cada dia em um lugar diferente, armários coletivos e rotatividade de mesas? Bom, essa é a realidade de só 10% das empresas que participaram da pesquisa.

Não foram apenas os símbolos de poder que nos chamaram a atenção no nosso estudo, mas a falta de ousadia — postura tão exigida quando falamos de futuro do trabalho. Quantas vezes criticamos empresas que deixaram a oportunidade passar quando descobriram uma possível ameaça ao seu negócio? Casos clássicos como o da Kodak, Blockbuster e My Space pipocam nas apresentações de vários eventos, nos alertando sobre o perigo da inércia em tempos de mudança. E nós, faríamos diferentes se descobríssemos uma nova oportunidade disfarçada de ameaça?

Para 18% dos nossos respondentes, não. Eles também deixariam passar a oportunidade, repetindo o mesmo erro de gigantes do passado. Apenas 28% afirmaram que repensaria seu modelo de negócio a partir de uma ameaça ao seus core business. A maioria (54%) faria um investimento mínimo de baixo risco, revelando o espírito ainda muito conservador que habita em cada gestor.

Tal atitude se reflete também nos processos das empresas, ainda muito engessados num mundo que pede cada vez mais agilidade e autonomia. Dois exemplos reforçaram esse traço das companhias que participaram da pesquisa. O primeiro tem a ver com tecnologia e tomada de decisão. Quando perguntamos sobre a utilização de novos softwares no trabalho, 43% das empresas informaram que o funcionário precisa acessar a rede de TI e esperar por volta de 15 dias ou mais por uma resposta, pois o processo é burocrático.

O segundo exemplo diz respeito ao contrato estabelecido entre empresa e funcionário. Sabe aquela história de trabalhar por projeto, busca por flexibilidade, fim do limite entre vida profissional e pessoal? Então, ela ainda é ficção para grande parte das empresas. Para a maioria (34%), os funcionários devem bater ponto com gestão rígida de hora trabalhada. Para 22% das empresas, a flexibilidade até é permitida, desde que o total de horas semanais seja cumprido. Apenas 16% responderam que se o funcionário produzir com qualidade, não importa a hora ou o local de trabalho.

No entanto, nada nos surpreendeu tanto quanto o olhar sobre pessoas. Embora percebemos que a agenda de recursos humanos tenha ganhado cada vez mais relevância nos negócios e que as empresas com excelência em gestão colocam as pessoas em primeiro lugar, nossa pesquisa revelou um dado alarmante: para 34% das empresas, o tema “pessoas” é o último a entrar na pauta estratégica das reuniões, após o fechamento das principais decisões ou é tratado somente em casos excepcionais (como demissão, processos trabalhista etc).

Como sua empresa vai ultrapassar a barreira da transformação digital se não envolver as pessoas? Como você vai mudar o modelo mental da sua companhia e flexibilizar seus processos se a coisa mais importante continua sendo o lucro que você vai gerar para os acionistas? Enfim, como você vai se tornar uma empresa do futuro praticando a mesma política do passado?

Fica aqui o convite para você ler nosso relatório e refletir sobre o caminho para o futuro. Será que os passos que você está dando estão na direção certa? Ou ainda somos os mesmos e viveremos para sempre como os chefes dos nossos chefes?

 

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