Por: Daniela Diniz

Diretora de Conteúdo e Relações Institucionais

Por: Daniela Diniz

Diretora de Conteúdo e Relações Institucionais

11 janeiro, 2018 • 3:00

Causou espanto no mundo corporativo a demissão de três funcionários (incluindo o próprio CEO) da filial brasileira da norte-americana Salesforce, desenvolvedora de software corporativo, por causa de uma fantasia usada por um dos seus funcionários na festa de final de ano. Vestido de “negão do whatsapp”, personagem que ficou famoso ao se tornar um meme no aplicativo, o profissional foi o pivô de uma cadeia de demissões após sua imagem – compartilhada pelas redes sociais – chegar aos olhos da matriz. O primeiro da lista foi ele mesmo, o dono da fantasia polêmica; o segundo foi o diretor comercial. Por fim, o CEO foi convidado a se retirar da companhia ao supostamente tentar defender seu time sob alegação de que a fantasia não passava de uma brincadeira feita em um país em que a tolerância à brincadeira é gigante.

Conhecida mundialmente como uma empresa que tem a igualdade como um dos seus pilares e reconhecida pelo Great Place to Work como a Melhor Empresa para Trabalhar na lista Global de 2017, a Salesforce “simplesmente” fez valer os seus valores (abaixo, assista ao vídeo em que a empresa reforça seus valores). E isso custou caro para os dois lados. O da própria matriz, acusada de ser radical e intolerante à cultura de um país “alegre por natureza”, e do time brasileiro, que perdeu três funcionários, sendo dois executivos, e sofre as consequências da desconfiança e de um clima pesado.

https://www.youtube.com/watch?v=_Z18Ml71HVE

O que está em questão neste episódio, porém, não é a intolerância da companhia ou ainda a exagerada descontração da filial brasileira. O que está em jogo é algo mais profundo: o desconhecimento da cultura corporativa. E isso é grave. Embora falemos o tempo todo em propósito e alinhamento de valores, ainda estamos patinando nesse assunto. Porque é complexo mesmo. Porque é difícil traduzir em práticas diárias as palavras que estão nas paredes e nos discursos. Porque é mais difícil ainda é encontrar pessoas alinhadas ao seu propósito e que estão dispostas a remar no mesmo sentido. E quando percebemos um desvio de conduta, um desalinhamento na rota, preferimos fechar os olhos e deixar passar uma, duas, dez vezes. Especialmente quando os envolvidos estão entregando resultados. Porque parece mais fácil negociar os valores do que as metas, quando deveria ser o contrário – sempre. Talvez por isso, episódios como as demissões provocadas pela Salesforce e pelo Google, que, em agosto do ano passado, dispensou um funcionário após ele escrever um memorando no qual atribuía a diferenças biológicas a falta de mulheres no setor tecnológico e na liderança do Vale do Silício, causem ainda espanto.

A primeira lição a ser tirada do “caso Salesforce”, portanto, é o quanto conhecemos a cultura e os valores da nossa empresa? O quanto estamos conectados a esse propósito? O quanto estamos alinhados como time? E isso não tem a ver apenas com os assuntos macro da companhia, mas com as pequenas e cotidianas ações que fazem a rotina acontecer. Na festa de fim de ano da filial brasileira da gigante varejista Walmart, por exemplo, não se serve nem bebida alcoólica. Apenas um detalhe? Não, faz parte da cultura.

segunda lição que tiramos desse episódio é o entendimento de que o que você faz em público não é apenas para o seu público. Mas para o planeta inteiro. Especialmente se você é funcionário de uma empresa global. Exposição em excesso e exposição equivocada causam danos sérios à sua imagem e isso pode trazer sérias consequências para sua vida profissional. Não importa se é festa. Não importa se é Brasil. A sua conduta não é avaliada apenas no que você faz nas horas de trabalho, mas na sua vida como um todo.

Temos ainda um terceiro aprendizado de toda essa história: o papel da liderança. Caiu um; caíram três. Se alguém pecou ao desconhecer as regras do jogo não foi apenas o funcionário fantasiado. Mas seu chefe. E o chefe do seu chefe. E possivelmente outros envolvidos. Demitir apenas o profissional que provocou toda a celeuma seria o mais fácil, mas não o correto. É preciso ter coerência nos atos e coragem para defender os valores – ainda que isso continue causando críticas e assombros na sociedade como um todo.

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