Por: Daniela Diniz

Diretora de Conteúdo e Relações Institucionais

Por: Daniela Diniz

Diretora de Conteúdo e Relações Institucionais

29 julho, 2018 • 12:22

Dunga. Mano Menezes. Luiz Felipe Scolari. Dunga. Tite. Em seis anos, a seleção Brasileira de Futebol teve cinco mudanças de técnico – com direito à reprise de personagens. Se em time que está ganhando não se mexe, em time que está capenga a solução é rapidamente adotada pelos clubes e seleções mundo afora: mexe, e mexe muito. A primeira cabeça que costuma rolar é a do líder da equipe. Fizemos um levantamento do tempo médio no cargo dos técnicos de futebol de clubes de primeira divisão em seis países. A média de permanência é de apenas 1,3 anos. O Brasil é o país em que eles menos esquentam o banco: 3,5 meses no geral. Joel Santana, por exemplo, reconhecido por recuperar equipes em momentos difíceis, passou por sete clubes entre 2011 e 2016. Por sua vez, os Estados Unidos são o país em que a permanência do técnico é a mais longa: 2,7 anos. Motivos? Talvez seja o país com maior tolerância à entrega de resultados ou com mais maturidade na gestão.

Esses indícios ficam mais evidente quando avaliamos o tempo médio de permanência dos CEOs das empresas nos respectivos países analisados. Sim, eles são equivalentes (em números relativos) e isso não é apenas uma coincidência. Enquanto os Estados Unidos aparecem como o país em que os CEOs têm vida mais longa na organização (7,5 anos, segundo dados da S&P 500), o Brasil fica na lanterna: 4,3 anos, de acordo com um levantamento da consultoria de recrutamento e seleção Egon Zhender, com base nas 50 maiores companhias do Brasil de capital aberto. A alta rotatividade dos CEOs nas empresas instaladas no Brasil sempre chamou atenção, mas nos últimos anos ela vem sendo observada de perto.

Tradicionalmente, o país do futebol costuma levar para as salas de reuniões as regras do gramado e substitui com frequência seus comandantes. As causas estão sim na instabilidade e imprevisibilidade política e econômica, que pedem resultados extraordinários em tempos ordinários, cobrando dos líderes rápida adaptação, muita inovação e ousadas soluções. Mas não é só isso. O principal motivo da alta rotatividade no topo é o mesmo que abrevia o tempo dos técnicos de futebol: imaturidade da governança corporativa. Diferentemente do que ocorre em países mais desenvolvidos como Estados Unidos e Inglaterra, as empresas brasileiras não têm ainda uma cultura de planejamento sucessório. Sem pensamento de longo prazo, a solução mais fácil é trocar o chefe (ou o técnico) e chamar alguém com perfil de salvador da pátria para colocar ordem na casa. O risco dessas substituições é enorme. Dentro e fora dos gramados. Segundo uma pesquisa da Harvard Business School em parceria com a Universidade de Stanford, a posse de um novo presidente numa grande companhia representa a substituição de 25% dos seus diretores no período de um ano. É o efeito cascata das trocas no alto escalão. E sabemos que elas também ocorrem nos campos de futebol.

Como estabelecer confiança em ciclos tão curtos? Impossível. Não à toa que o comportamento das 150 Melhores Empresas para Trabalhar, que historicamente mantém um índice de confiança diferenciado em relação ao time, é bem diferente da média das empresas brasileiras – e dos clubes de futebol. Segundo nossa última pesquisa, 70% das melhores empresas têm plano de sucessão estruturado. Consequentemente, nelas o CEO fica quase o dobro do tempo no cargo: 7 anos em média. É tempo suficiente para conquistar confiança, provocar mudança e entregar resultados. O cenário de adversidades que esse grupo tem de administrar é exatamente o mesmo enfrentado pelas demais companhias: ambos os grupos sofrem com a pressão por resultados, com metas arrojadas, com cortes de pessoal. A diferença está na maturidade da gestão.

Ao se preocupar mais com seu time e com o desenvolvimento dos seus profissionais, as 150 Melhores Empresas formam seu celeiro de potenciais sucessores. E dão tempo ao tempo. Porque sabem que pessoas não são peças que se trocam e se descartam conforme o sobe e desce da economia – por maior que seja a velocidade das mudanças e a cobrança por resultados. Por isso, elas saem na frente. Por isso, são melhores.

Gráfico CEO x Técnicos

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