Por: Marina Sobral

Diretora Regional RJ e ES no GPTW Brasil

Por: Marina Sobral

Diretora Regional RJ e ES no GPTW Brasil

31 março, 2022 • 10:12

Vamos dar um passo atrás: por que falar de luto é importante? 

Sabemos que falar de morte é um tabu na nossa sociedade — em um contexto cultural onde prevalece o culto à juventude, vivacidade e saúde,  falar de morte parece ir na contramão de tudo que buscamos. 

 Mas a verdade é que a morte faz parte da vida. E na medida que só é possível lidarmos de uma forma saudável com algo a partir do momento que aquilo é compreendido e nomeado, o luto segue essa mesma lógica. 

Infelizmente com a pandemia da Covid-19, o Brasil teve um número de mortes considerado recorde. Em 2021, o número de óbitos chegou a 1.726.447 pessoas. Para se ter uma referência, o número total de mortes em 2019 foi de 1.317.610. Estima-se que, para cada pessoa que morre, ficam por volta de 5 pessoas próximas enlutadas. 

Para além de números, hoje, ao olharmos para o lado, conhecemos pelo menos 1 pessoa  que perdeu alguém próximo nos últimos dois anos. E isso também é verdade no nosso ambiente de trabalho. Dentro dessa realidade, fica impossível ignorarmos o tema mesmo dentro do lugar onde as emoções costumam ser menos bem-vindas.  

O que é luto? 

O luto é um processo natural que ocorre a partir de um rompimento de vínculo significativo. Por mais que o luto mais conhecido seja relacionado ao rompimento por morte, qualquer rompimento pode gerar um processo de enlutamento e isso é normal, saudável e esperado.  

Apesar de algumas características comuns entre pessoas que estão vivendo um luto, não podemos esquecer que essa vivência e suas manifestações são tão individuais e particulares quanto cada pessoa.  

O período do luto não é linear e muito menos padronizado, o que faz com que seja um desafio oferecer a ajuda “certa” — o que, trazendo para o contexto organizacional, não difere muito do desafio que as lideranças têm de liderar conforme as características de cada integrante do time. 

Por que falar de luto nas empresas? 

O ambiente profissional, historicamente, foi constituído como um ambiente predominantemente masculino, onde a vida pessoal e emocional não eram convidadas a entrar. ‘Empresa’ era sinônimo de um local de poder, controle e racionalidade — luto traz o oposto disso.  

Porém, hoje, além de contarmos com as pessoas de uma forma integral no ambiente corporativo, o trabalho invadiu o espaço íntimo das famílias ao ir para a casa das pessoas, tornando a separação vida pessoal/profissional cada vez mais tênue. 

Ao falar da morte de alguém próximo, estamos falando de uma das piores crises que uma pessoa pode passar na vida e que não pode ser ignorada. A maioria das pessoas  experimenta reações como perda de energia, concentração e rendimento no trabalho. 

Mesmo com tantas mudanças no contexto organizacional, o trabalhador, normalmente, ainda não se permite ou não é autorizado a enlutar-se neste ambiente onde passa grande parte do seu dia. A contenção do luto, a falta de validação da empresa, colegas e gestores pode contribuir para o agravamento de doenças físicas e mentais, além de não facilitar o retorno da pessoa enlutada ao seu ambiente de trabalho.

Dessa forma, precisamos que empresas e lideranças estejam aptas para oferecer suporte adequado para os seus colaboradores. 

Atualmente a legislação brasileira prevê que os trabalhadores regidos pela CLT tenham direito a dois dias consecutivos de ausência legal em caso de falecimento de cônjuge, ascendente, descendente, irmão ou pessoa declarada como dependente econômico na Previdência Social. 

Porém, se realmente quisermos ajudar o colaborador a passar da melhor forma por essa situação, precisamos ir além do que a legislação sugere.  

Flexibilidade e escuta são as palavras-chave e pontos de partida para qualquer ação. Listamos também algumas práticas que podem ajudar.

7 práticas para lidar com o luto no trabalho

1. Defina políticas

É importante que a empresa já tenha algumas políticas definidas no caso de falecimento de alguém próximo ao colaborador: comparecimento de pessoas da empresa aos rituais, envio de coroa de flores, flexibilidade nos dias de ausência, ligação de pêsames são alguns exemplos possíveis.   

2. Acolha a pessoa enlutada

A Jungle Medical, startup do Ecossistema GPTW especialista em saúde emocional, traz as práticas por trás da sigla EVA – Escute, Valide e Acolha. Por sermos seres empáticos, muitas vezes ao nos depararmos com o sofrimento de alguém com quem nos importamos temos o impulso e a necessidade de fazer ou falar algo para que a pessoa se sinta melhor.  

Em vez de dar conselhos, comparar com situações já vividas por você ou tentar animar a pessoa a todo custo, simplesmente esteja presente. Escute, Acolha, Valide e pergunte o que pode fazer para ajudar.  

3. Converse com a pessoa

Entenda com a pessoa que está enlutada se ela prefere continuar fazendo as atividades ou prefere alguns dias de afastamento. Como a atividade profissional pode ser fator de risco ou proteção nesse momento, perguntar ao colaborador qual é a sua preferência é a melhor forma de conduzir essa situação.  

4. Participe do processo

Participe de alguma forma dos rituais: velório, enterro, missa, envio de coroa de flores – esse momento é muito marcante e, para quem perdeu alguém, receber esse apoio da equipe do trabalho traz bastante conforto.

5. Ofereça suporte

Caso ocupe uma posição de gestão ou liderança, retome os recursos que a empresa oferece em termos de suporte e benefícios corporativos: suporte psicológico, auxílio funerário, entre outros. 

6. Fale sobre o assunto

Não evite o assunto, abra sempre espaço para as pessoas falarem sobre o luto e suas perdas. Isso ajuda a construir um ambiente mais saudável e acolhedor.  

7. Esteja disponível para ajudar

Reconheça que não temos todas as respostas e pergunte: como posso ajudar? Se possível, ofereça algumas opções. 

Ajudas práticas nesse momento são de grande valor, pois muitas vezes a pessoa em crise não consegue pensar nelas: organizar a alimentação, pegar os filhos na escola e ajudar com burocracias são alguns exemplos.  

A morte de alguém próximo pode ser o evento mais marcante da vida do(a) colaborador(a), e quando o trabalho faz parte disso de forma positiva, contribui para que o luto seja vivido da forma mais saudável possível. 

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