Por: Daniela Diniz

Diretora de Conteúdo e Relações Institucionais

Por: Daniela Diniz

Diretora de Conteúdo e Relações Institucionais

24 agosto, 2018 • 4:28

Quando falamos em presente/futuro do trabalho recorremos sempre à questão da forma como trabalhamos ou trabalharemos. Home office, teletrabalho, horários flexíveis, sextas-feiras com jornadas reduzidas são práticas adotadas já há algum tempo por boa parte das melhores empresas para trabalhar no Brasil. Entre as 150 Melhores Empresas para Trabalhar de 2018, 82% adotam horário flexível e 61% disseram estimular o home office. Mas estamos numa nova era e todas essas atitudes são ações do passado. Ao menos para as empresas que vivem nos grandes centros e adotam políticas de vanguarda. O que está em questão não é o trabalho flexível, já tantas vezes falado, mas o trabalho com liberdade, o que é bem diferente.

Trabalhar com liberdade significa produzir no seu tempo, seguindo obviamente as regras do jogo, cumprindo as metas estabelecidas e os compromissos da agenda. Ou seja, nada disso – regras, processos, metas e compromissos – deixa de existir. A diferença é a forma como você vai conduzir tudo isso. A linha de chegada é uma só. As rotas são inúmeras. Se para você faz mais sentido usar as madrugadas para gerar relatórios ou indicadores ou o que quer que seja que seu trabalho demande, que se faça na madrugada.

Ah, mas isso não é possível num país como no Brasil, que tem uma legislação que obriga os funcionários a cumprir uma jornada fixa de trabalho. Sim, essa é a primeira questão que ouvimos todas as vezes que citamos os casos de flexibilidade de horário das melhores empresas para trabalhar. Se a legislação é um entrave, negocie. Negocie com o time, negocie com os sindicatos, negocie com as lideranças. Sempre haverá um jeito de tornar melhor a vida das pessoas dentro da organização, sem encurrala-las dentro dos padrões da era industrial.

Acontece que a legislação não é a principal barreira para que pratiquemos o trabalho com liberdade. A principal barreira somos nós mesmos e os anos de história que carregamos dizendo que trabalhador bom é aquele presente, é aquele que não falta, é aquele que cumpre “direitinho” o expediente. O que precisa mudar não é apenas a legislação – que ganhou ali algumas alterações importantes neste quesito com a recente Reforma Trabalhista. O que precisa mudar é a nossa mentalidade sobre a forma de trabalhar.

Durante um círculo de debate que participei recentemente sobre mobilidade para inaugurar o evento WTM 18, o qual o Great Place to Work é parceiro, Laercio Albuquerque, CEO da Cisco, disse que, ao entrar na empresa, foi alertado que as pessoas ali faziam seu próprio horário e dificilmente ele conseguiria reunir todos presencialmente. Sua primeira reação foi de estranhamento e, claro, de desconfiança. “Até entender que isso funciona muito bem e que todos se beneficiam dessa forma de trabalhar, leva um tempo”, disse. Porque somos acostumados a espiar se o chefe vai embora para – ops! – dar aquela escapadinha mais cedo ou deixar o paletó na cadeira para “fingir” que estamos no escritório. Você já pensou o quão infantil são essas atitudes? Especialmente num mundo que já faz previsões concretas de telepatia entre humanos em grau avançado até 2099.

Na era digital não tem desculpa para “não permitir” novas formas de trabalhar. Fazemos qualquer coisa de qualquer lugar em qualquer tempo. A rede nos conecta independentemente da distância, independentemente dos horários. Quer um exemplo? Me mudei no início de agosto para a pequena Fayetteville, município com cerca de 5 mil habitantes, no estado de Nova York, para acompanhar meu marido, que fará um pós-doutorado na Universidade de Syracuse e meu filho que, mais do que estudar, irá conhecer o mundo. Aqui moraremos os próximos seis meses. Daqui trabalharei os próximos seis meses, produzindo conteúdo e coordenando os projetos e eventos da minha equipe. Sem uma relação de confiança, porém, e um mentalidade de futuro (e não de passado) eu jamais poderia realizar um projeto familiar sem abrir mão de um projeto profissional.

A mudança de pensamento sobre a forma como trabalhamos é muito mais significativa e necessária do que a adoção de práticas de flexibilidade ou a instituição de um home office para parte do time. É preciso mudar de postura.

Aproveite a magia da tecnologia para o bem das pessoas e da sua empresa. Quer um funcionário engajado? Em primeiro lugar, ouça-o e conheça quais são seus sonhos. Em segundo lugar, alinhe com ele o lugar que vocês devem chegar. E, desde sempre, confie. O retorno será muito maior para você (que não vai perder um talento para o mundo), para ele (que vai trabalhar com mais paixão do que nunca) e, consequentemente, para a saúde financeira da sua empresa.

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5 Comentários

  • Postado por: Edgar Leite •

    Muito pertinentes as suas colocações, Daniela!
    Há muito a se a mudar na mentalidade das pessoas. Que esse tipo de reflexão reverbere e encontre sempre mentes inquietas e produtivas como a sua. Parabéns e ótima estadia em seu mais novo “great place to work”! 🙂

  • Postado por: Alessandra Varella •

    Olá! Adorei o seu texto e adoraria trabalhar dentro desse modelo. Porém, penso que, mais do que as empresas, as pessoas também precisam “se acostumar” com esse modelo. Hoje ainda, temos gente que não sabe o que fazer com a “liberdade” que tem! Há mto trabalho a ser feito para tudo isso mudar e acredito ser muito válido que a gente comece já, não é? Obrigada pela reflexão!

    • Postado por: Daniela Diniz •

      Obrigada pelo feedback, Alessandra! Realmente, a transformação é profunda e ainda acontece num ritmo lento. E ela passa por nós, profissionais, também! Em um webinar, o nosso CEO comentou um pouco sobre essa questão de uma transformação mais ampla, uma transformação de mentalidade rumo ao digital: http://bit.ly/2Pn9eoh

  • Postado por: Cinthia •

    Maravilhoso seu artigo Dani! Vou palestrar hoje sobre o futuro do trabalho e vou levar esse conteúdo!

  • Postado por: Alex •

    Eu queria que a empresa que trabalho pensasse assim. Eles pensam em implementar home office, mas estão muito desconfiados de que os funcionários vão ficar morcegando. Estão barreirando muito o home office. Eu mesmo trabalhei 7 anos home office e hoje me sinto em uma senzala. Por isso, vou começar agora a procura de outro lugar para trabalhar.

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