Por: Felipe Miniussi Maschio

Consultor de Relacionamento no Ecossistema GPTW

Por: Felipe Miniussi Maschio

Consultor de Relacionamento no Ecossistema GPTW

27 junho, 2022 • 7:06

Convidamos Felipe Maschio, consultor de Relacionamento no GPTW Brasil, para compartilhar reflexões sobre LGBTQIA+ fobia e dar algumas dicas práticas para as empresas.

Olá, eu sou Felipe Maschio, bissexual assumido. Sabia que 41% dos gays assumem ter sofrido preconceito, e 61% dos funcionários LGBTQIA+ preferem esconder a sexualidade dos gestores e das empresas? Bom, eu sou particularmente muito mais feliz desde que tomei a decisão de demitir as empresas desalinhadas com meus valores e excluir da minha vida as pessoas que não me faziam bem. E hoje sei que entrego meu melhor onde sou tratado igualmente, como uma pessoa (não estou falando de ser aceito, porque essa palavra, na verdade, é exclusiva e dá uma ideia de “tolerância”).

Em 19 de junho de 2022, em São Paulo, ocorreu a maior parada LGBTQIA+ do mundo, com um recorde de 4 milhões de pessoas. Eu também pude estar em um trio junto a uma grande variedade representativa de pessoas. Foi demais conhecer tanta gente! Sabe quem estava lá? Pedro HMC, cujo marido transsexual Pedro Vaz se suicidou em março após não aguentar mais comentários transfóbicos. Pois é, o país da maior “parada gay” do mundo é o que mais mata pessoas LGBTQIA+ no planeta!

E qual é o papel das marcas e empresas neste cenário? Ter um ambiente mais diverso e inclusivo, longe de preconceitos, livre de falas homofóbicas, transfóbicas (machistas, racistas, preconceituosas… e assim vai). A marca que teve o maior retorno de investimento na Parada deste ano atingiu um ROI em mídia espontânea de R$ 12,3 milhões, com um investimento obviamente bem menor do que isso. Sabe o que está acontecendo agora? Uma enorme comemoração na empresa. E a comemoração faz o quê? Com que as pessoas queiram continuar por lá.

Por que ela chegou lá? Na equipe que trabalhou na Parada, havia todo o tipo de pensamento, todo o tipo de background, cores, raças, orientações sexuais, gêneros… Uma equipe diversa traz ideias diversas. E o time levantou esse trio em poucas semanas, com a empolgação e dedicação de cada um, cada um se sentindo parte daquilo, em um ambiente seguro para inovar.

Ambientes seguros, de confiança e prontos para inovação são os que trazem os maiores resultados! Usei aqui o exemplo da Parada, porque estamos em junho, mês do orgulho, e essa é a pauta do momento, mas em qualquer situação de discussão, quanto mais ideias e vivências variadas surgirem, mais desafios serão ultrapassados.

Como fazer para sua empresa e seu ambiente serem inclusivos?

Elimine o preconceito e frases homofóbicas do ambiente, como “Vira homem!” (aliás, essa também é bem machista), “Mas ele não namorava uma menina?”, “Você só é gay porque está influenciado por essa galera aí.” Pense assim: “Se eu disser isso, vou ofender alguém?” (se você usar esse pensamento em todos os momentos da sua vida, terá relações muito melhores e mais saudáveis).

Como eliminar? Implemente regras, punições, canais de denúncia, e incentive que um colega alerte o outro em situações do tipo (igual fazemos com assédio e machismo).

Fique de olho e cuide das lideranças, que precisam entender todo esse cenário e internalizar. Lideranças que se comunicam e agem de forma homofóbica com certeza são motivos de demissão, afinal, quem segue o GPTW sabe que as pessoas se demitem dos seus líderes.

Desenvolva as lideranças da empresa, faça palestras sobre o tema, workshops, treinamentos. Líderes precisam entender a importância disso tudo. Já falamos, uma liderança humanizada e inclusiva é aberta a ideias e à inovação. Quer chegar lá mais depressa ainda? Tenha líderes LGBTQIA+! Eles vão representar a todos e vão saber o que fazer. Serão exemplos e darão liberdade para cada pessoa ser quem é.

Além disso, tenha processos seletivos inclusivos. Coloque na sua estratégia a inclusão de pessoas LGBTQIA+ na empresa. Faça processos seletivos específicos, escreva na descrição das vagas que a empresa busca mais colaboradores LGBTQIA+ para o time, valorize as pessoas diversas no processo. Não pergunte sobre a orientação sexual de ninguém de forma constrangedora na entrevista.

Quando você tiver de fato um ambiente inclusivo, com pessoas preparadas, vai ser fácil e fluido. Na minha primeira entrevista no GPTW, eu já disse que era bissexual tranquilamente (até porque ter essa liberdade para ser quem sou eu é um dos meus valores inegociáveis).

Por fim, tenha ações específicas voltadas para essas pessoas (e desenvolvidas e executadas por elas). Encontros, festas, patrocínios, eventos… Faça parte da comunidade você também. Foi muito lindo ver o quanto as marcas estavam realmente dentro da Parada, de cabeça!

Essas são apenas algumas dicas do que uma empresa pode fazer para ter um ambiente inclusivo e diverso e combater a LGBTQIA+ fobia. Se a empresa não entende isso, ela está perdendo dinheiro, mas o mais importante é: ela está deixando de lado a sua responsabilidade social de transformar a sociedade e o mundo, e, por fim, de construir espaços melhores para as pessoas

Agora, para as organizações que já trabalham esse tema no dia a dia, já têm a Diversidade no DNA, nós temos uma premiação específica no GPTW. Óbvio! Não é lindo reconhecer quem está fazendo a diferença? Aliás, para estar nos nossos rankings, as empresas precisam ser certificadas como GPTW, ou seja, elas atingem resultados enquanto os colaboradores sentem orgulho de trabalhar nelas.

E não se esqueça de estudar mais sobre o assunto. Procure informações, vá atrás! Se a sigla LGBTQIA+ ainda é estranha para você, não se preocupe. Ela muda o tempo todo, assim como o mundo. E adaptar é parte da sociedade.

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