Por: Casimiro Netto

Product Manager na Weego - empresa do Ecossistema GPTW

Por: Casimiro Netto

Product Manager na Weego - empresa do Ecossistema GPTW

20 junho, 2022 • 12:26

Quando eu fui convidado para escrever sobre liderança LGBTQIA+, não sabia exatamente por onde começar. Quer dizer, saber eu até sabia, porque a maioria dos artigos sobre o tema seguem uma receita bem definida:

Primeiro, mostramos alguns dados para exemplificar a exclusão da população LGBTQIA+. Como, por exemplo, o fato de que uma grande porcentagem de empresas afirma não contratar colaboradores não heterossexuais de forma alguma (como se eles pudessem saber de fato sobre a orientação sexual das pessoas – mas enfim…); ou como o medo de sofrer consequências no trabalho é tão grande que apenas uma pequena porcentagem de nós é aberto sobre a orientação sexual nas empresas.

Depois, nós falamos um pouco sobre por que essa realidade, além de imoral, é ruim para os negócios: existe uma enxurrada de dados comparando o desempenho econômico de empresas que fomentam a diversidade contra aquelas que não o fazem. Por fim, citamos alguns exemplos de programas de empresas que estão no caminho certo da inclusão e da diversidade.

Tudo isso é verdade, e é extremamente importante, mas eu acordei com o pé errado e decidi que essa não é a história que eu queria contar. Queria falar sobre algo… maior? Então parei por alguns dias para pensar sobre a história que queria compartilhar com você e acho que tenho uma bem legal.

E se eu contasse para você que a realidade em que vivemos hoje existe, em grande parte, graças ao trabalho de um homem gay? Que seus esforços ajudaram a definir o rumo da história do século 20? Que o rosto dele está estampado na nota de 50 mais valiosa do mundo? Agora essa seria uma história!

E para minha sorte, além de tudo isso ser real, o timing não poderia ser melhor: no último dia 7 de junho, completam-se 68 anos da morte de Alan Turing. Turing fez contribuições nos campos da Matemática, Biologia, Filosofia e foi basicamente o progenitor da Ciência da Computação. O computador moderno está diretamente ligado às suas descobertas. Então não é exagero nenhum afirmar que muitos dos avanços tecnológicos dos séculos 20 e 21 (incluindo o computador ou celular que você está usando para ler este artigo) tiveram suas origens com o trabalho de Turing.

Quem curte um cinema pode estar se lembrando do seu nome por conta do filme “O Jogo da Imitação”, que conta um pouco da sua vida e foca especificamente em seu trabalho em criptoanálise – Turing teve um papel central na quebra dos códigos nazistas o que, por sua vez, foi essencial para a vitória dos aliados na Segunda Guerra. Então, acho que você também pode agradecer o sr. Turing por não estar lendo um texto em Alemão neste momento.

Além disso, Alan Turing era fascinado pela questão da inteligência artificial – mas infelizmente não pudemos ver o seu trabalho nessa área chegar a uma conclusão. É aqui que a história fica triste. Turing nunca foi de esconder sua orientação sexual, e infelizmente, em 1952, foi levado à “justiça” por ser gay, o que era considerado um crime na época. Ele não negou a acusação, defendendo que a homossexualidade não deveria ser considerado um ato criminoso (felizmente, hoje em dia, boa parte do mundo concorda).

Sua punição foi a castração química em 1952. Além disso, Turing perdeu as credenciais para continuar trabalhando com o governo britânico. Sistematicamente cada vez mais isolado da sociedade para a qual lutou para defender, morreu aos 41 anos em 1954, envenenado por cianeto. A investigação determinou ser um suicídio, mas existem também outras teorias.

A homossexualidade deixou de ser crime na Inglaterra em 1967. Somente em 2009, o governo britânico publicamente se desculpou e o perdão real teve que esperar em 2013. Em 2021, o rosto de Turing passou a figurar na nota de 50 libras.

Antes de ir, eu gostaria de deixar duas reflexões. A primeira, para toda a população LGBTQIA+:  jamais duvide de si mesmo. A história de Alan Turing mostra que nós não só podemos, como já mudamos o mundo.

Para os empregadores, fica o convite para refletir o quanto a trajetória de vida de Turing não é parecida com a história da vida profissional de tantos LGBTs dentro da sua empresa: nós trabalhamos, contribuímos, nos destacamos, só para ter nossa orientação sexual ser o motivo que nos exclui, por exemplo, de assumir posições de liderança. E isso leva a uma sensação de exclusão e impotência, o que invariavelmente, leva à demissão, ao fim da vida profissional daquela pessoa em sua empresa. Quantos potenciais Alan Turings será que vocês já perderam?

Isso é tão comum que parece que, às vezes, as pessoas esquecem. Então não custa nada lembrar: o ano é 2022, não 1952.

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