Por: Daniela Diniz

Diretora de Conteúdo e Relações Institucionais do GPTW Brasil

Por: Daniela Diniz

Diretora de Conteúdo e Relações Institucionais do GPTW Brasil

1 agosto, 2022 • 2:54

A pandemia acelerou muitas das transformações que já vínhamos observando no mundo corporativo, quebrando paradigmas e desconstruindo estereótipos e mitos sobre o trabalho (e o trabalhador) perfeito. Algumas delas foram mais rápidas de serem assimiladas, como a ideia de que precisamos ter um local físico para trabalhar; outras resistem por mais tempo, pois estão impregnadas no nosso modelo mental, exigindo um esforço maior para a mudança de hábitos e comportamentos.

Abaixo, alguns desses conceitos que estão sendo colocados em xeque quando falamos de presente e, principalmente, futuro do trabalho.   

1. A TECNOLOGIA VAI SUBSTITUIR TODOS OS EMPREGOS

A Transformação Digital apareceu como um bicho-papão para muitas pessoas e empresas. A ideia de que num mundo digital, negócios e empregos iriam morrer apavorou (e ainda apavora) muita gente. Mas a verdade é que dados, projeções e cases de mercado vêm revelando que a coexistência entre humanos e tecnologia é o que deve prevalecer.

Para isso, claro, é preciso estarmos em constante estado de aprendizado, aumentando nosso repertório e desenvolvendo novas competências. Como disse Richard Bookstaber, professor de Economia do MIT, “Nenhum humano é melhor do que uma máquina. E nenhuma máquina é melhor do que um humano com uma máquina”.

Vamos a alguns exemplos que comprovam sua tese:   

  • De acordo com o relatório The Future Jobs (2020), do Fórum Econômico Mundial, até 2025 a automação deve eliminar 85 milhões de empregos, enquanto a nova divisão de trabalho entre máquinas, humanos e algoritmos irá criar 97 milhões;  
  • Segundo um levantamento feito pelo Banco Mundial em 2018, quanto mais robôs per capita em um país, maior seu PIB e menor sua taxa de desemprego. Enquanto o Brasil – à época – apresentava uma proporção de 10 robôs a cada 10 mil trabalhadores e taxa de desemprego de 12%, a Alemanha, com 309 robôs/10 mil trabalhadores tinha uma taxa de 3,7% de desemprego – o mesmo índice da Coreia do Sul, o país mais robotizado no levantamento (613 a cada 10 mil trabalhadores). 
  • O livro Work Without Jobs, de Ravin Jesuthasan e John Boudreau, traz dois levantamentos bem interessantes do segmento bancário americano para desmitificar a relação automação x desemprego. O primeiro diz respeito ao número de caixas eletrônicos e os empregos em agências. Em 1985, os Estados Unidos tinham 60 mil caixas eletrônicos e 485 mil caixas de banco. Em 2002, havia 352 mil caixas eletrônicos e 527 mil caixas de banco. O outro dado revela que enquanto mais de 8 mil agências bancárias dos Estados Unidos fecharam ao longo de uma década (uma média de mais de 150 por estado) e mais de 90% das transações agora ocorrem online, o número de funcionários de bancos americanos permaneceu relativamente estável em mais de dois milhões. Ou seja, nem o aumento de caixas eletrônicos, nem a automação das transações financeiras eliminaram os empregos no setor bancário americano.  

2. TRABALHAR MUITO SIGNIFICA TRABALHAR MAIS

Esse talvez seja um dos principais mitos sobre o trabalho. Acreditamos que profissionais disponíveis 100% do tempo, que aparecem sempre com a luz verde dos seus aparelhos eletrônicos indicando estar conectados e quase nunca tiram férias são os mais eficientes e produtivos da turma. Mito.

Na maioria das vezes, pessoas que exibem rotinas sem pausas costumam ser menos organizadas, mais estressadas e menos produtivas. Com base em um estudo de Stanford, o professor de economia John Pencavel descobriu que a produtividade por hora diminui drasticamente quando uma pessoa trabalha mais de 50 horas por semana.

Após 55 horas, a produtividade cai tanto que colocar mais horas seria inútil. Aqueles que trabalham até 70 horas por semana estão recebendo apenas a mesma quantidade de trabalho que aqueles que trabalham 55 horas. Menos, também em se tratando de volume de trabalho, pode ser mais.  

3. EXISTE EQUILÍBRIO ENTRE VIDA PESSOAL E PROFISSIONAL

Se você está ainda procurando o equilíbrio entre sua vida pessoal e profissional, esqueça! Primeiro porque a vida é uma só – somos apenas uma pessoa (ou ao menos deveríamos ser) em casa e no trabalho – e se para você ainda é difícil evitar essa separação, lembre-se de alguma reunião em que uma criança apareceu na tela chorando, um cachorro entrou latindo ou o barulho do liquidificador trouxe um ruído bem caseiro para a sala virtual.

Segundo porque a tecnologia só acelerou essa integração de papéis, permitindo que trabalhássemos aos finais de semana, da nossa casa, ao lado dos filhos ou numa quarta-feira numa pousada na montanha. Durante anos, fomos ensinados a colocar uma divisória na nossa vida: trabalho antes; diversão depois.

Ao derrubar essa premissa e aceitar que a vida é apenas uma, permitimos trabalhar e se divertir de domingo a domingo. Não estou dizendo que é simples ou fácil, até porque passamos boa parte da nossa vida acreditando que uma coisa não se misturava com a outra. Mas é necessário. E, melhor, é saudável.

Ao estabelecer uma nova rotina que possibilite incluir no expediente um passeio com o cachorro, um banho, exercícios físicos, paradas para o café, o trabalho fica mais leve, mais saboroso e, sem dúvida, mais produtivo. E a vida também.  

4. DEVEMOS TRABALHAR APENAS POR PROPÓSITO  

Quando ouço ou leio frases motivacionais que elevam o trabalho a um lugar que é apenas fonte de propósito, eu me pergunto se os porta vozes desse conceito são muito mentirosos ou muito sortudos. Acredito realmente que exista uma parcela bem pequena – bem pequena mesmo – da nossa sociedade que trabalhe apenas por propósito.

Para essas pessoas, não importa o valor do contracheque, os benefícios oferecidos e as oportunidades de desenvolvimento e crescimento profissional que o trabalho pode oferecer. Importa apenas se o seu trabalho tem um sentido maior e está alinhado aos seus valores de vida.

Vivemos uma era em que cada vez mais os profissionais vêm questionando o sentido do seu trabalho (e a pandemia acentuou esse questionamento), o que reforça que a nossa relação com o trabalho está em constante evolução. Evolução, porém, não é ruptura com o passado.

Se na era industrial, o conceito de trabalho estava atrelado a um modo de sobrevivência – eu trabalho para pagar minhas contas – na era digital, num mundo pós pandemia o trabalho tem outro significado – eu trabalho porque me sinto realizado, porque é bom, porque faz sentido, e também porque preciso pagar contas.

A nossa relação com o trabalho vem mudando de status e se sofisticando – o que explica a transformação na gestão de pessoas. Nesta evolução, porém, nós vamos agregando razões para trabalhar e não substituindo. Portanto, caros leitores, o trabalho é sim um meio de realização, felicidade, propósito, mas também de sobrevivência. Uma coisa E OUTRAS. E não uma coisa OU outra.  

5. LÍDERES TÊM TODAS AS RESPOSTAS

Possivelmente, a liderança é a peça que mais vendo discutida e analisada no ambiente corporativo ultimamente. Assim como a relação com o trabalho vem sofrendo alterações, o papel da liderança também vem se transformando. A ideia de que o líder é quase um super-homem ou mulher maravilha, que tem respostas para tudo e nunca erra é uma das maiores falácias do mundo do trabalho.

Líderes são seres humanos como qualquer um dos colaboradores da empresa, que têm insegurança e dúvidas; que cometem erros e vibram com reconhecimentos por decisões acertadas. Num mundo imprevisível e incerto, é impossível alguém ter todas as respostas e, mais impossível ainda, alguém ter todas as respostas certas.

É preciso saber dizer “não sei” e pedir ajuda, envolvendo mais as pessoas da empresa em prol de um objetivo comum. Ao tirar esse estigma da liderança superpoderosa, nós permitimos que os líderes sejam mais humanos e as relações de trabalho mais honestas. Ganhamos todos.  

E, você?  Na sua opinião, em quais outros mitos sobre o trabalho ainda acreditamos?  

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