Por: Roberto Mosimann

Diretor Executivo da Regional Rio de Janeiro no Great Place to Work

Por: Roberto Mosimann

Diretor Executivo da Regional Rio de Janeiro no Great Place to Work

13 maio, 2020 • 11:35

Há alguns anos, quando eu ainda estava nos meus vinte e poucos, participei de um workshop que tinha como objetivo aumentar minha consciência sobre mim mesmo e sobre o mundo, além de despertar meus talentos pessoais. Foram 4 dias de conteúdo e, em um deles, ficamos em silêncio por 12 horas para refletir sobre uma única pergunta:

O que eu posso fazer para que o mundo fique um pouco melhor?

Eu sempre fui idealista – os mais românticos podem me chamar de “um sonhador”. Apesar de querer mudar o mundo, os outros e, também, a mim mesmo, nunca aspirei liderar pessoas em uma empresa , mas foi esse o rumo que minha carreira tomou. Hoje, estou diretor da regional no Rio de Janeiro da consultoria global Great Place to Work e lidero uma equipe de 7 profissionais – profissionais estes que eu admiro e com os quais aprendo diariamente.

Então, apesar de não ter traçado um plano preciso rumo a uma cadeira na liderança, isso aconteceu e eu acredito que algumas características da minha personalidade me ajudaram – e me ajudam – muito nessa missão de ser um gestor. Uma delas é que sou transparente. Após uma semana convivendo comigo, você vai perceber quando estou bem e quando não, quando estou calmo e quando estou a mil, quando tenho aquele olhar de admiração e quando os olhos apenas revelam uma pitada de irritação.

Outra característica que eu acredito ter me ajudado muito nessa jornada eterna de tornar-se um líder foi a tolerância com erros não intencionais. Se eu erro o tempo todo, por que tenho que punir os demais por erros não intencionais? Aliás, se existe uma coisa em que acredito é que o erro faz parte do aprendizado e, mais do que isso, que ele nos desenvolve como pessoas e profissionais. Não tenho vergonha de assumir meus erros, costumo dizer “era só para testar se você estava atenta/o”. Faço piada com isso. E, da mesma forma, entendo que faz parte quando acontece com qualquer pessoa que trabalha direta ou indiretamente comigo. Como a própria Brene Brown, famosa, dentre outras coisas, pela palestra no TED sobre o poder da vulnerabilidade, diz; “quando se tem uma cultura de tolerância zero com vulnerabilidade, onde perfeccionismo e armadura são necessários e até aplaudidos, tais conversas não serão produtivas”.  Eu realmente acredito nisso, tanto que não acho que o líder deva se portar como se tivesse todas as respostas, como se fosse um oráculo que sabe de tudo.

Apesar de normalmente apresentarem maior experiência e conhecimento sobre determinados temas, os líderes estão longe– mas muito longe! – de serem os donos da verdade. A realidade é que a solução está em grande parte das vezes no grupo e deve ser construída de forma colaborativa. Só que, para muitos líderes, o simples fato de responder “não sei” demonstra fraqueza. Eu discordo totalmente. Às dúvidas que não sei responder, costumo simplesmente dizer: “O que você faria?” ou “Eu não tenho todas as respostas, eu preciso de ajuda”. “Vulnerabilidade promove conexão e coração ama conexão”, já falava o experiente executivo de tecnologia David Bailey.

Eu não tenho medo de mostrar emoções na frente dos outros e acho que isso me torna um líder melhor, não mais fraco. Associar emoções à fraqueza, aliás, é tão comum – e tão prejudicial – no universo masculino. Homens não choram, líderes sabem de tudo – que ilusão! Não à toa, as estatísticas mostram um triste cenário em que homens tendem a ter mais problemas com alcoolismo e até mesmo maiores índices de suicídios que as mulheres.

Se algo pessoal aconteceu, se conseguimos um grande resultado na empresa, se alguma pessoa do time está com problemas pessoais ou se vou ao casamento de uma pessoa da minha equipe, não tenho problema em mostrar minhas emoções. Eu acredito que esse tipo de comportamento gera conexões verdadeiras e fortalece uma cultura de confiança. Nessas horas, me recordo de uma frase de Celia Jones, especialista em branding e comunicação corporartiva: “compartilhar a sua verdade com as pessoas a sua volta permite que as pessoas façam o mesmo, isso conecta pessoas”.

Em momentos turbulentos como este pelo qual estamos passando, nós, líderes, temos que agir rápido, estarmos mais atentos do que o normal, apoiar a equipe. Sim, isso tudo é importante, mas tão importante quanto – ou, talvez, mais – é mostrar que nós, líderes, vamos oscilar, vamos ter momentos de fraqueza e que tudo bem as pessoas ao nosso redor perceberem isso. Cito de novo Brene Brown para lembrar que “vulnerabilidade é uma ferramenta de liderança”, não uma armadilha, como talvez muitos pensem.

Como está sendo esta quarentena para vocês, líderes?

Olha, pra mim, não tem sido fácil! É difícil lidar com aquela necessidade de buscar força de onde não temos, com a tentativa (muitas vezes frustrada) de administrar diferentes e variadas demandas, com a missão de manter a cabeça e o corpo em equilíbrio, com o dever de apoiar família, amigos e, claro, nossa equipe. Momentos de incerteza geram insegurança e não é somente na equipe. No líder também! Perdemos a previsibilidade e nadamos em um mar desconhecido. E, de verdade, o que tenho feito é, a cada dia, contar para minha equipe se estou ou não bem e pedir desculpa quando ajo de maneira um pouco mais ansiosa ou irritadiça. Todos estamos assim, não? Também é momento de pedir ajuda e contar com a ajuda daqueles que se colocam à disposição. Bom, pelo menos eu acredito nisso!

Nos últimos dias, tenho refletido bastante sobre àquela pergunta feita há muitos anos naquele workshop, de quando eu tinha vinte poucos anos. Aquela única pergunta sobre a qual deveríamos pensar por longas 12 horas: o que eu posso fazer para que o mundo fique um pouco melhor?

Desde aquele dia, quando a escutei pela primeira vez, essa pergunta ficou comigo. Acabou virando um mantra pra mim. Procuro usá-la em decisões pessoais e profissionais. Hoje, quando tantas pressões, medos, anseios e mais uma avalanche de sentimentos transborda em mim, essa pergunta retorna para, quem sabe, me mostrar algum norte. Na situação em que estamos vivendo, acredito que o que eu possa fazer para que o mundo fique um pouco melhor é apoiar as pessoas que tenho contato e não negar o apoio generoso oferecido pelos outros Acho que posso dar o melhor de mim mesmo para ajudar minha empresa a sair mais forte do outro lado. Acho que posso buscar extrair o melhor das pessoas e também me inspirar nelas para ser uma melhor versão de mim mesmo.

Estes podem não parecer largos passos, mas acredito sinceramente que são passos que podemos nos ajudar a seguir em frente. Vamos, juntos, em frente.

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4 Comentários

  • Postado por: Andre •

    Um excelente texto.

  • Postado por: Lorena Zambrano •

    Emocionante e muito adequado para a situação que estamos vivendo, como ajudar aos líderes se permitirem ser simplesmente seres humanos, que tem medo, insegurança e que só ao se mostrar como eles são vão podem diminuir as distancias com suas equipes, e não só falo de distancias físicas… Obrigada Roberto!

  • Postado por: Islane Amaral •

    Me identifiquei demais com esse texto. Sou uma líder muito parecida e não tenho problema em assumir que errei e de deixar claro a minha equipe que podemos e devemos fazer tudo juntos.

  • Postado por: Sileide amaro da Hora •

    Muito bom esse texto.

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