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28 junho, 2019 • 9:00

Nas Melhores Empresas para Trabalhar, sim: 89% das pessoas se sentem à vontade para serem elas mesmas no ambiente de trabalho. Em tese, esse grupo acredita que não precisa esconder suas opiniões, que pode compartilhar seus pensamentos, que existe espaço para diferentes personalidades em uma mesma organização, enfim, esse grupo diz acreditar que é possível levar a sua verdadeira “versão” para a empresa. No entanto, será que esse sentimento se estende para todo os aspectos da vida de um profissional? Será que não existem assuntos que, mesmo hoje, são considerados tabus no meio corporativo? No mês do Orgulho LGBTQI+, vale lembrar que, infelizmente, muitos trabalhadores no Brasil e em outras partes do mundo ainda temem assumir sua orientação sexual e/ou identidade de gênero. 

Uma pesquisa da plataforma Glassdoor, por exemplo, revelou que 66% dos profissionais LGBT (sigla para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) acham que assumir sua identidade poderá interferir negativamente em sua carreira. O temor torna-se realidade diante de informações como a de que uma em cada cinco empresas não contrataria homossexuais para determinados cargos. O triste achado é da Elancers, empresa de sistemas de recrutamento e seleção que pesquisou 10.000 organizações

Lá fora, a história não é muito diferente. Um relatório baseado em dados da empresa de pesquisa britânica YouGov mostrou que mais de um terço desse grupo oculta sua identidade no trabalho por medo de discriminação. De acordo com o mesmo estudo, um em cinco profissionais já foram alvos de comentários negativos na empresa.

Casos noticiados pela mídia, como o de Tim Cook, presidente da Apple, evidenciam preconceitos alheios responsáveis pelo desconforto de muitos em se assumir por completo, no âmbito pessoal e no profissional. Há quase cinco anos, Cook abriu sua orientação sexual, tornando-se um dos pioneiros das grandes empresas a se posicionar sobre sexualidade. Depois do CEO da Apple, mais executivos, como Peter Thiel, do PayPal, e Jon Hall, do Linux, fizeram declarações públicas motivados a dar visibilidade à causa e encorajar outros profissionais a serem eles mesmos onde trabalham.

De maneira geral, ainda é difícil afirmar que boa parte das pessoas se sente verdadeiramente à vontade no seu local de trabalho no que se refere à orientação sexual e/ou identidade de gênero. Mudar isso é difícil não só pelo medo que tais profissionais carregam — o medo de ser boicotado para uma promoção ou de ser ostracizado, por exemplo —, mas porque esse tipo de discriminação por vezes oculta é, em algum grau, o modus operandi. Discriminação oculta porque é colocado sobre a outra pessoa a responsabilidade de se sentir “à vontade”, porque ninguém quer tocar no assunto, porque Orgulho LGBTQI+ é, por vezes, usado como abordagem de marketing e não como mecanismo de mudança. Esse preconceito oculto foi incorporado e, então, naturalizado — mas, na verdade, de “natural”, isso nada tem.

Não é “natural” que as pessoas precisem interpretar um personagem no trabalho. Não é “natural” que a orientação sexual de alguém seja motivo de chacota ou demérito profissional. Não é “natural” que CEOs revelando a sua orientação sexual seja encarado como um ato de coragem. Não é “natural” chamar comentários preconceituosos de “piada”. Não é “natural”, inclusive, explicar de novo e de novo que respeito é algo básico nas relações humanas — essa noção já deveria ter sido incorporada. Mas construir uma sociedade melhor é assim, é uma jornada longa, com acertos e tropeços; uma jornada que requer ânimo para repetir discursos e levar adiante uma crença. A crença de que uma empresa só pode ser considerada um excelente lugar para trabalhar se assim o for não para um ou outro grupo, mas para todos.

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1 comentário

  • Postado por: Regina Carvalho •

    Excelente texto! E parabéns ao GPTW pela belíssima iniciativa!

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