Por: Caio Sigaki

Chief Digital Officer (CDO) do GPTW

Por: Caio Sigaki

Chief Digital Officer (CDO) do GPTW

14 abril, 2020 • 6:44

Em momentos de incerteza, medo e histeria como o que vivemos hoje, o papel da liderança se torna peça fundamental em qualquer empresa, qualquer tamanho e de qualquer setor. O que fazer, então, nesse momento crítico? Ser líder em momentos como esse requer muita resiliência.

Muitos gestores estão perdidos, assim como muitos RHs. Não se sabe o que fazer e como fazer para manter o engajamento das pessoas do time. Problemas não faltam: corte de fornecedores, impactos na remuneração variável, falta de contato e socialização, pessoas do time com princípios de crises de ansiedade e depressão, queda na produtividade e assim por diante.

Uma pesquisa da Gallup mostra que o mau relacionamento com os gestores é o principal motivo para 75% das pessoas deixarem seus empregos. Já outro levantamento da Michael Page revela que 8 em cada 10 profissionais pedem demissão por causa do chefe. Que atire a primeira pedra quem nunca teve alguma experiência negativa com algum “chefe”.

Diante desses dados, no entanto, fica a pergunta: os “chefes” são os verdadeiros culpados?

Falta de Preparação

A grande verdade é que os gestores chegam despreparados para cumprir a sua função. Em uma pesquisa com mais de 2.5 milhões de gestores em 195 países, a Gallup mostrou que 70% desses líderes não estão preparados para cumprir a sua função, gerando um prejuízo de mais de 300 bilhões de dólares na economia globalmente.

Entre todos os gestores que estão lendo esse texto, quantos de vocês tiveram algum tipo de aula na faculdade sobre gestão de pessoas? Quantos tiveram um gestor para mostrar o caminho das pedras? Quantos tiveram um BP de RH desde o day 1 como gestor?

O fato é que as empresas, em sua maioria, não tem preparado os gestores e nem sabe como fazer. O principal critério para promover um funcionário a gestor é sua habilidade técnica, o que não é suficiente para alguém ocupar a cadeira de liderança. Há também os casos em que não tem mais como o profissional crescer na empresa, o que faz com que o próximo passo seja virar “gestor” — resultado daquela crença infundada de que o gestor sempre deve ter o salário mais alto. O impacto disso? Todos os números que já mostramos e a imagem de que o chefe é uma figura negativa na maioria das equipes.

Alta liderança versus Time

Em uma pesquisa conduzida pelo Great Place to Work em fevereiro deste ano, notamos que há uma grande diferença entre as expectativas da alta liderança e dos liderados em relação aos gestores.

De um lado, os gestores são cobrados por resultados (o grande foco da alta liderança). Do outro, seu time cobra desenvolvimento de carreira, feedbacks constantes e “cuidado”. E, no meio do caminho, fica o gestor tentando equilibrar os pratos.

No final do dia, sabemos que pesa mais a cobrança do seu gestor direto, ou seja, o resultado. Uma herança que vem de décadas de uma economia, cujo principal sinal de sucesso é o valor das ações — o que quer dizer que o retorno ao acionista é a única prioridade. Nos últimos anos, temos visto exemplo após exemplo de que colocar o lucro acima de qualquer outra coisa tem um impacto negativo nas pessoas, nos negócios e no mundo.

Por isso, a mudança começa na alta liderança, que precisa cobrar resultado, sim, mas também reaprender que existem outros aspectos tão importantes quanto o resultado financeiro. Afinal, sem pessoas não há resultados!

Impacto Emocional

Um artigo da Harvard Business Review discute o quanto estar na média liderança é exaustivo. No artigo, eles citam que lidar com pessoas em diferentes níveis de autoridade é desgastante para o gestor, já que ele é líder e também liderado, e precisa balancear isso em todas as interações com os diferentes stakeholders.

A edição de fevereiro da revista Exame, cuja capa discute o tema do burnout, divulgou um estudo da Isma-BR e Betânia Tanure Associados sobre o nível de estresse e como ele aumentou em todos as posições de liderança, comparando o ano de 2018 com 2019. Comparando só o nível de estresse de 2019, o gerente é o mais afetado — e acredito que muito desse resultado tem a ver com o conteúdo publicado pela Harvard Business Review, citado acima.

Porcentagem de profissional com nível de estresse

MEMBRO DO CONSELHO
2018: 27%
2019: 40%

PRESIDENTE / CEO
2018: 37%
2019: 45%

VP
2018: 39%
2019: 43%

DIRETOR
2018: 40%
2019: 39%

GERENTE
2018: 44%
2019: 50%

Fontes: Isma-BR e Betânia Tanure Associados

Além de toda a pressão característica do cargo, quem está nessa posição de média liderança precisa saber lidar com os clientes, fornecedores, gestores de outras áreas, diretores, VPs e assim por diante. Sem resiliência e muito jogo de cintura não há como aguentar tamanha pressão.

E como dar conta nesse contexto de confinamento?

1. Buscar apoio psicológico

Sim, terapia! Acredito que nunca houve um momento tão propício para as pessoas, que ainda não fazem, começarem a ter um atendimento terapêutico. Terapia não é para pessoas “malucas” ou em depressão, terapia serve para todos e nesse momento acho importantíssimo ter uma pessoa para “desabafar” e também te ajudar no processo de autoconhecimento. O confinamento em si pode ser um grande impulsionador do processo de autoconhecimento; ser forçado a estar apenas com você pode ser bem difícil, mas é essencial para o desenvolvimento pessoal e, consequentemente, como líder. Como liderar pessoas se você não lidera nem a própria vida?

Comparo a psicoterapia às máscaras de oxigênio do avião que te ajudam a respirar, antes de pensar em ajudar outra pessoa. Se você tiver sem ar, como vai ajudar o outro?

E você não precisa sair de casa para buscar apoio! Temos no mercado empresas como a Vittude, uma plataforma que te conecta com milhares de terapeutas online ou a Cíngulo, um app que busca te ajudar e orientar através de um processo guiado.

2. Focar na sua zona de controle

Faça uma lista em um papel com todas as coisas que tem tirado o seu sono. Divida-a em duas colunas: “tenho controle” e “não tenho controle”. Tudo o que você não tem controle, você deve “desapegar”, ou seja tentar não sofrer.

Por exemplo, o aumento de casos de Covid-19 no Brasil pode estar tirando o seu sono, mas isso, em parte, está fora da sua zona de controle. O que pode estar na sua zona de controle é ficar em quarentena e evitar qualquer contato social. E você, o pode fazer dentro da sua zona de controle para melhorar o seu dia a dia e dos outros como líder?

3. Rotinas e rituais

Tenha rituais com você. Pratique seus exercícios. Mesmo em casa, tente praticar meditação, ler livros, escrever. Crie um hábito ou adapte os hábitos que tinha nesse momento. Evite o excesso de informação, grupos e mais grupos de WhatsApp.

Manter a sanidade mental é fundamental para todos. Para líderes, ainda mais. As pessoas buscarão neles o apoio, segurança e confiança para conseguirem passar por esse momento. E manter rotinas e rituais com o seu time é fundamental.

Marque reuniões diárias, as famosas dailys, para saber como estão, o que têm feito e principalmente para manter um contato com as pessoas do seu time. Tente manter os mesmos rituais que você tinha no escritório presencial, porém de forma online, reuniões com toda a empresa, happy hours virtuais etc.

Infelizmente, o quadro que temos hoje é o de gestores sobrecarregados, que chegaram à sua posição sem a preparação adequada, tentando resolver exigências opostas e irreconciliáveis, e, ainda por cima, em tempos de crise. Mesmo com tudo isso, você, como gestor, tem um papel essencial na empresa, e sua equipe conta com você. Então cuide de você!

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9 Comentários

  • Postado por: JOANA •

    Muito interessante o artigo em relação ao tema Impacto Emocional, uma vez que não estamos acostumados a pensar muito na saúde mental do gestor, mas sempre na do colaborador. E esse, muitas vezes tem seu lado emocional afetado em consequência da relação com o tal gestor. Porém, o líder(gestor) sofre grandes pressões, com as quais não lida de uma maneira emocional positiva.

  • Postado por: Andresa Rosa •

    Muito bom! amei o artigo! parabéns!

  • Postado por: Laura •

    Muito bom seu artigo! Só não concordo que fazer reuniões todos os dias ajude a fortalecer a saúde mental dos colaboradores. Mas, pode intensificar problemas de estresses.

  • Postado por: Michelssen •

    Um assunto cada vez mais contemporâneo. Parabéns pelo artigo !!

  • Postado por: Edijane •

    Muito bom o artigo,pois realmente não é só pensar no lucro de uma empresa e sim em quem ajuda a conquistar suas metas…O ser humano …

  • Postado por: Carla •

    Ótimo conteúdo, nos dias de hoje está sendo bem difícil mesmo, mas precisamos nos apegar as leituras sim, terapias e outro recursos que não deixa nos ficarmos pilhados, porque ser líder é muita responsabilidade e tanto.
    Obrigado por mas esses encinamento 👏👏👏

  • Postado por: Verbena Medeiros •

    Eu achei a matéria diferenciada pelo acesso a pesquisa e mapeamento do perfil dos líderes. Parabéns. Acho que as organizações precisam avançar em proporcionar ambientes cada vez melhores.

  • Postado por: Lucas Ferreira •

    Concordo muito com o texto.

  • Postado por: Antonio Soares de Sousa Neto •

    Muito bom, este olhar para liderança, pois quando chegamos a determinados cargos de liderança. A impressão que transparece dos colaboradores e da própria empresa é que são profissionais feito de ferro ou aço, aguenta qualquer tranco. Só que o ferro ou o aço também se quebra. Ele também precisa de ser polido e tratado para ter mais resistência e durabilidade.

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