Fomentar uma cultura de ajuda no trabalho. Algo que as organizações sempre almejaram e que a pandemia tornou ainda mais urgente. Afinal, se há um consenso entre as pessoas é que estamos todos sobrecarregados de trabalho. E isto não é apenas uma impressão, mas algo real. Um estudo recente da Harvard Business School indica que não apenas nossos dias de trabalho estão mais longos, como também estamos sendo mais acessados com reuniões e e-mails fora do horário de trabalho — aliás, existe ainda um horário de trabalho fixo em nossa sala de estar/escritório? Uma análise dos e-mails e reuniões de 3,1 milhões de pessoas descobriu, por exemplo, que o dia de trabalho médio aumentou 8,2% durante as primeiras semanas da pandemia.
A ironia é que, no momento em que mais precisamos da ajuda uns dos outros, o isolamento, a separação física e a mediação digital das nossas interações sociais tornam este processo mais difícil. Assim, hoje, mais que nunca, precisamos fomentar um ambiente de cooperação e apoio mútuo. Porém, uma cultura de ajuda no trabalho engloba antes de tudo uma cultura de pedir apoio aos outros. E isto demanda que sejamos capazes de vencer as barreiras que nos impedem de solicitar ajuda de forma efetiva.
Antes de apressadamente culpar a falta de empatia dos outros como barreira principal, faço um convite à seguinte reflexão: até que ponto estamos realmente pedindo ajuda de forma clara? Várias pesquisas mostram que as pessoas resistem em dar esse passo. As preocupações são inúmeras: receio de ser visto como incompetente ou inconveniente, medo de ser rejeitado ou de dever um favor. Todas elas são obstáculos que nos impedem de manifestar claramente que precisamos de ajuda.
Quantas vezes já observei pessoas relutantes em pedir ajuda simplesmente porque elas estavam mais preocupadas em parecer competentes e não revelar uma suposta vulnerabilidade? A ironia é que vários destes medos são infundados. Por exemplo, um estudo publicado no Management Science mostra que as pessoas não questionam sua competência por pedir ajuda. Outra pesquisa publicada no Journal of Personality and Social Psychology traz evidências empíricas que subestimamos a propensão das pessoas a nos ajudar (em quase 50%), assim como o nível de esforço que estão dispostos a dispender para nos ajudar.
Porém, antes de sair por aí pedindo ajuda, faça outra reflexão: até que ponto você realmente ajuda e apoia aqueles que estão ao seu redor? Normas de reciprocidade importam. Estamos mais dispostos a ajudar aqueles que são generosos conosco e, com o tempo, vamos nos distanciando daqueles que atuam como “tomadores” (do inglês, takers). Eles são fáceis de identificar. São autocentrados apenas na sua própria agenda. Agem como se as pessoas tivessem obrigação de ajudá-los. Solicitam favores, indicações, conselhos, informações e conexões dos outros, mas não são capazes de agir eles mesmos de forma generosa. Isto cobra seu preço no longo prazo. Como, normalmente, conseguimos identificar com certa rapidez esse perfil, a capacidade dos tomadores de atuar em parceria e de contar com a ajuda das pessoas pode se reduzir ao longo do tempo.
Ainda que evitemos ser sugados pelos tomadores, estamos, em geral, dispostos a estender a mão porque isso nos faz bem. Um estudo publicado no prestigioso Psychological Science mostra que o ato de ajudar aumenta nossa autoimagem positiva, porque ela ressalta nossa identidade prosocial, ou seja, nossa preocupação em sermos generosos e empáticos com outros. E isto dá o tom da forma como devemos não apenas pedir ajuda, mas também reagir à assistência dada.
Ao pedir ajuda, é importante salientar a benevolência daquele que está disposto a auxiliá-lo. Ao invés de minimizar a importância da ação dizendo que você precisa apenas de um “favorzinho”, faça o oposto: diga, de forma clara, como a ajuda será útil e benéfica a você, ressalte seu valor e impacto. Na mesma linha, não caia na armadilha de enfatizar o aspecto transacional da relação com “te ajudo, porque você me ajudou” ou ainda “se você me ajudar, você também se beneficiará assim ou assado”. Primeiro, as pessoas podem se sentir manipuladas com esta abordagem e, portanto, resistir em te auxiliar. Segundo, com estas observações, você apenas reduz a percepção de benevolência da ajuda da outra pessoa, insinuando que ela fará isto por interesse.
Agora, quando estiver na posição contrária, de quem recebeu a ajuda, faça o óbvio (que inacreditavelmente muitos ignoram). Agradeça. Agradeça de verdade e direito. Usar “#gratidão” ou “TKS” ou sequer dar uma devolutiva sobre quão efetivo foi o apoio oferecido dificilmente podem se encaixar em um agradecimento completo e verdadeiro. Agradecer de verdade significa mostrar de forma genuína como a ajuda foi útil, quais foram os resultados dela e como você reconhece a generosidade do outro. Como é possível pedir que a outra pessoa empregue tempo e esforço por você, quando não estamos dispostos sequer a gastar energia agradecendo apropriadamente?
Há muito espaço para criarmos ambientes de ajuda nas organizações. As possibilidades a se explorar são inúmeras, mas antes há de se superar as barreiras mais básicas para sermos capazes de pedir ajuda e fazê-lo de forma efetiva.
3 Comentários
Parando para analisar realmente, muitas das vezes temos receio de pedir ajudar para que não sejamos interpretados como incapazes. E importante entender que vivemos um processo continuado de aprendizado.
Fomentar uma cultura de ajuda no trabalho. Algo que as organizações sempre almejaram e que a pandemia tornou ainda mais urgente. Afinal, se há um consenso entre as pessoas é que estamos todos sobrecarregados de trabalho
Muitas das vezes o não pedir ajuda no trabalho, é por insegurança!