As palavras que usamos na vida diária refletem quem somos e as relações sociais em que estamos. Esta não é uma visão nova. A linguagem é a maneira mais comum e confiável para as pessoas traduzirem seus pensamentos e emoções internos de uma forma que os outros possam entender. Palavras e linguagem, então, são o próprio material da psicologia e da comunicação. Eles são o meio pelo qual os psicólogos cognitivos, de personalidade, clínicos e sociais tentam entender os seres humanos.

As conexões entre linguagem, saúde emocional e psicologia social estão mudando em ritmo acelerado. Inovações na análise de palavras, como os algoritmos desenvolvidos pela Jungle Medical em parceria com centros de pesquisa nos EUA e Canadá, estão trazendo novos insights e aplicações nunca antes sonhadas para dentro das empresas.

Esses algoritmos utilizam como base um programa de análise de texto que conta palavras em categorias psicologicamente significativas. Assim, com base nos dados adquiridos, é possível identificar categorias de interesse como:

• perfis emocionais de equipes;
• informações sobre saúde mental;
• índices de engajamento de colaboradores;
• características de inovação e liderança;
• e muito mais.

É possível, ainda, identificar empresas destaque em saúde emocional utilizando esta mesma ferramenta.

Vamos nos aprofundar sobre esta metodologia a seguir.

Análise de texto computadorizada: uma breve história

As raízes da análise de texto moderna remontam aos primórdios da psicologia. No século XX, Freud escreveu sobre lapsos de língua pelos quais as intenções ocultas de uma pessoa se revelavam em aparentes erros linguísticos. Já Rorschach e outros cientistas desenvolveram testes projetivos para detectar os pensamentos, intenções e motivos das pessoas pela maneira como descreviam manchas de tinta ambíguas.

McClelland e uma geração de pesquisadores do teste de apercepção temática (TAT) descobriram que as histórias que as pessoas contavam em resposta a desenhos de pessoas podiam fornecer pistas importantes para suas necessidades de afiliação, poder e realização.

Em todos os casos, avaliadores treinados leram as transcrições das descrições das pessoas e marcaram palavras ou frases que representavam as dimensões que os pesquisadores estavam estudando. 

O primeiro método de análise de texto verdadeiramente transparente foi iniciado pelo médico Walter Weintraub, que ficou fascinado pelas palavras cotidianas que as pessoas usavam — palavras como pronomes e artigos. Ao longo de uma década, ele contou à mão as palavras das pessoas em textos como discursos políticos e entrevistas médicas.

Ele notou que os pronomes da primeira pessoa do singular (por exemplo, eu, eu, meu) estavam ligados de forma confiável aos níveis de depressão das pessoas.

Embora seus métodos fossem diretos e suas descobertas consistentemente relacionadas a importantes medidas de resultados, seu trabalho foi amplamente ignorado. Sua observação de que as palavras simples da fala cotidiana refletiam o estado psicológico, no entanto, foi presciente.

Para encontrar um método de avaliação mais eficiente, pesquisadores recorreram à promessa de programas computadorizados de análise de texto para avaliar as redações. Na época, não existia nenhum programa simples de análise de texto. Consequentemente, Martha Francis e Francis Pennebaker iniciaram a tarefa de desenvolver um.

Seu objetivo era criar um programa que simplesmente procurasse e contasse palavras em categorias relevantes para a psicologia em vários arquivos de texto. O resultado foi um programa de computador em constante mudança chamado Linguistic Inquiry and Word Count, ou LIWC.

O significado social e psicológico das palavras

As palavras que usamos na vida diária refletem o que estamos prestando atenção, o que estamos pensando, o que estamos tentando evitar, como estamos nos sentindo e como estamos organizando e analisando nossos mundos. As 80 categorias de linguagem no LIWC foram associadas em centenas de estudos a processos psicológicos interessantes.

Nesta seção, apresentamos uma breve discussão dos processos psicológicos e um pequeno conjunto de categorias de linguagem relacionadas.

1.     Foco de atenção: pronomes e tempo verbal 

Rastrear a atenção das pessoas revela informações sobre suas prioridades, intenções e pensamentos. Os bebês, por exemplo, focam em objetos que apresentam novidade, complexidade e movimento, o que mostra até que ponto eles estão focados no aprendizado.

Nossa atenção pode oscilar de nossos mundos externos para nossos sentimentos ou sensações internas (por exemplo, Pennebaker, 1982). Se estivermos jogando uma partida de tênis, podemos machucar o braço e não perceber, porque nossa atenção total está no jogo em si. Alternativamente, se a lesão for significativa, a dor pode chamar tanto a atenção que não estamos mais cientes do jogo.                  

Rastrear o uso da linguagem, como rastrear o olhar das pessoas, pode nos dizer onde está seu foco. No nível mais superficial, as categorias de palavras de conteúdo revelam explicitamente no que os indivíduos estão se concentrando. Palavras de função, como pronomes pessoais, também refletem a alocação de atenção. As pessoas que estão experimentando dor física ou emocional tendem a ter sua atenção voltada para si mesmas e, posteriormente, usam mais pronomes de primeira pessoa do singular.

Pronomes e tempos verbais são elementos linguísticos úteis que podem ajudar a identificar o foco, que, por sua vez, pode mostrar prioridades, intenções e processamento.

2.    Emocionalidade: emoções positivas e negativas 

O grau em que as pessoas expressam emoções, como expressam emoções e a valência dessa emoção podem nos dizer como as pessoas estão experimentando o mundo. As pessoas reagem de maneiras radicalmente diferentes a eventos traumáticos ou importantes; como as pessoas reagem podem dizer muito sobre como elas lidam com o evento e até que ponto o evento desempenha um papel no futuro.

No centro de reagir e lidar com eventos está a resposta emocional das pessoas. Os algoritmos utilizados pela Jungle são capazes de identificar com precisão a emoção no uso da linguagem.

A emotividade da linguagem vai além da simples expressão de mais ou menos emoção; o uso de palavras de emoção se relacionam com outros elementos-chave da linguagem. Em um exame com cerca de 2.800 textos, palavras de emoção foram negativamente correlacionadas com artigos, preposições e palavras de relatividade.

As características da linguagem, como discutiremos mais adiante, podem ser importantes na complexidade cognitiva e nos estilos de pensamento. Palavras de emoção foram positivamente correlacionadas com o uso de pronomes, uso de verbos auxiliares e uso de negação.

3.    Estilos de pensamento: conjunções, substantivos, verbos e mecanismos cognitivos

A linguagem pode rastrear quais informações as pessoas estão selecionando de seu ambiente e monitorizar o foco de atenção. Da mesma forma, o uso da linguagem natural fornece pistas importantes sobre como as pessoas processam essas informações e as interpretam para dar sentido ao seu ambiente. O pensamento pode variar em profundidade e complexidade; isso se reflete nas palavras que as pessoas usam para conectar pensamentos.

A linguagem muda quando as pessoas estão reavaliando ativamente um evento passado. Também pode diferir dependendo da extensão em que um evento já foi avaliado.

A profundidade do pensamento pode variar entre pessoas e situações; certas palavras podem revelar essas diferenças.

As preposições, por exemplo, sinalizam que o falante está fornecendo informações mais complexas e, muitas vezes, concretas sobre um tópico. “As chaves estão na caixa ao lado da lâmpada sob a pintura.” Nos artigos de periódicos publicados, os autores usam mais preposições na discussão do que na introdução ou no resumo.

Aplicações no cenário organizacional

No cenário atual onde inúmeras pesquisas de clima organizacional são uma realidade, é notável o interesse dos times de RH e gestão em buscar conhecer melhor seus times, bem como implementar estratégias de educação continuada e capacitação. Os melhores ambientes para se trabalhar com certeza são também aqueles que colocam as pessoas no centro de sua estratégia, como já discutimos amplamente em outras oportunidades.

Com o intuito de aproximar os avanços incríveis da neurolinguagem ao mundo do trabalho, a Jungle desenvolveu em parceria com o The Turing (associação sem fins lucrativos do Ecossistema Great People) e universidades nacionais, no Canadá e EUA, algoritmos que fazem a translação das ferramentas atuais de análise de linguagem com outputs de fácil compreensão para gerar insights sobre o cenário organizacional.

Atualmente, temos protocolos embasados em inteligência artificial que através da aquisição de comentários abertos (como aqueles presentes já em diferentes pesquisas organizacionais de clima) usam ferramentas como o LIWC e outras estratégias amplamente validadas na comunidade científica para gerar outputs de interesse.

Atualmente nosso diagnóstico organizacional apresenta resultados sobre:

1. Estágio de desenvolvimento emocional: trata-se de um score de 0-100 que reflete de maneira global o nível de bem-estar do time para melhor monitorização dos riscos em diferentes equipes;
2. DNA emocional: que traz as principais características comportamentais e de personalidade de cada equipe ou demografia dentre mais de 280 possibilidades diferentes. São características que fazem de seu time um grupo único;
3. Pilares do engajamento: os 6 pilares fundamentais que diferenciam um cenário de engajamento daquele de esgotamento (importância 0-10). Os pilares com maior valor são aqueles que fazem com que a sua equipe se engaje mais.
4. Perfil de inovação: com base nas pesquisas da finlandesa Lotta Hassi, apresentamos como estão as principais características que fazem seus líderes serem inovadores. Cada variável recebe uma nota de 0-10 com base no grau de importância ou força que tem apresentado para a equipe.
5. Perfil de Liderança: esta análise refere-se à liderança que as pessoas exibem por meio de sua escrita ou fala. O algoritmo foi desenvolvido com base na capacidade da liderança em motivar / inspirar o time. Também apresentamos o estilo de liderança com base no foco voltado aos resultados ou relações, bem como no perfil arrojado ou metódico de ação.

Vale destacar que todas as análises inovadoras têm como objetivo fornecer informações e insights de qualidade para apoiar a tomada de decisões da gestão. Por meio da análise de comentários abertos podemos chegar a valores outrora escondidos de modo a direcionar da maneira mais assertivas políticas e práticas organizacionais. Em paralelo, empresas que se destacam na categoria de estágio de desenvolvimento emocional são consideradas Destaques em Saúde Emocional.

Em outubro de 2022, a Jungle participou da Premiação das 150 Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil em 2022 do GPTW, e reconheceu 15 empresas como destaques em saúde emocional, de acordo com as categorias a seguir:

• Empresas gigantes (acima de 10 mil funcionários): Mercado Livre
• Empresas grandes (1.000 até 9.999 funcionários): Avanade; Central Ailos; Senior Sistemas; Softplan; Ticket Log e Viacredi
• Médias multinacionais (100 até 999 funcionários): Agro Amazônia Produtos Agropecuários; Cadence Design Systems do Brasil; Pipefy Marketing e Tecnologia; Salesforce
• Médias nacionais (100 até 999 funcionários): Dipesul, Fibrasil, Pormade Portas e Teltec Solutions

Estamos no limiar de uma nova era de análise da linguagem. A galáxia em expansão de métodos de análise de texto baseados em computador tem o potencial de adicionar aos nossos modos atuais de pensar sobre a linguagem e, sobretudo, transformar a visão que temos sobre saúde emocional dentro das organizações.

Para saber mais, acesse nosso site e descubra como a inteligência artificial aplicada à análise de texto pode mudar a realidade da sua organização!