Por: Lina Nakata

cientista de dados da GPTW e professora da FIA Business School

Por: Lina Nakata

cientista de dados da GPTW e professora da FIA Business School

22 abril, 2020 • 12:11

Em momentos de economia galopante, as pessoas recebem muitas ofertas de trabalho e se interessam pelas várias oportunidades. E quando encontram uma boa empresa para trabalhar, elas têm um motivo – ou mais! – que as faz permanecerem ali por bastante tempo. No entanto, o cenário do primeiro semestre de 2020 é de alta instabilidade, algo nunca vivido na história recente. O que gera uma dúvida: será que, diante disso, o comportamento dos colaboradores em relação às empresas vai mudar?

Quando observamos os porquês das pessoas permanecerem em suas organizações, temos o seguinte gráfico, com base nas 150 Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil e em centenas de milhares de colaboradores:

Respondentes Fator de permanência
46% Oportunidade de crescimento
22% Qualidade de vida
14% Remuneração e benefícios
14% Alinhamento de valores
2% Estabilidade

* 2% das pessoas não respondeu.

A maior parte (46%) dos colaboradores dessas melhores empresas entende que o principal fator de permanência seja ter oportunidades de desenvolvimento para que cresçam. Pouco mais de um quinto (22%) afirma que prioriza o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. 14% do grupo, igualmente, acredita que permanece por ter valores compatíveis com a empresa, ou por receber salários e benefícios ao final de cada mês trabalhado. E apenas 2% (fator de estabilidade) acredita que está na empresa somente porque seria demitido em último caso. Não há motivo melhor ou pior, há prioridades e motivações diferentes por parte de cada um!

A pergunta que nos resta é: essa tabela seria a mesma durante e depois do período de pandemia da COVID-19? É possível que sim, mas talvez com explicações diferentes? Ainda é muito cedo para tirar qualquer conclusão definitiva, porém gostaríamos de propor algumas reflexões sobre o assunto.

Investigações sobre o futuro

Pelo mercado tão incerto, podemos pensar que o fator da estabilidade poderia aumentar significativamente, afinal é uma questão de sobreviver na empresa e ter alguma chance de segurança. Certamente há setores mais e menos afetados pela crise do coronavírus, mas o sentimento de querer se assegurar em algum emprego – e ficar lá somente para manter a carteira de trabalho assinada – aumenta, pelo menos num primeiro momento. A atenção voltada para a estabilidade também deve aparecer em outros aspectos da nossa vida, como nos relacionamentos interpessoais e no consumo – no sentido de praticarmos um consumo mais equilibrado.

Também podemos supor que a questão da remuneração possa ganhar mais peso nesse cenário. As pessoas buscam ter um mínimo de ganho mensal, mas será que esse motivo específico seria determinante para a permanência no trabalho? Mais do que isso: será que, após a turbulência da pandemia e uma vez estabelecido o “novo normal”, o pacote de remuneração viria a ser o principal fator de permanência? Analisando o histórico das 150 Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil, percebemos que os 14% que ficam na organização pelo salário e benefícios se mantiveram bem estáveis nos últimos anos – nunca foram um grupo tão expressivo.

É bem verdade que, em momentos de aperto financeiro, a remuneração ganha um peso diferente, contudo é tão verdade quanto que, em cenários de crise, o alinhamento de valores entre empresa e colaboradores pode se ampliar. Uma temporada de incerteza tende a fortalecer os vínculos entre as duas pontas e, portanto, aumentar a compatibilidade de crenças das pessoas com o seu empregador – claro, quando este é coerente e toma ações que condizem com os valores praticados até então.

Por sua vez, entendemos que o fator “oportunidade de crescimento” seja aquele que, se continuar forte e mais frequente, também poderá levar as empresas ao sucesso no longo prazo. Pode ser que as pessoas já não apontem tanto este motivo como o principal para permanecer na empresa em que trabalha, mas com certeza estão levando um aprendizado extra para toda a vida, mesmo que não tenham essa intenção de maneira consciente. Se todos entenderem que, ao se manter comprometido com a organização, podem se desenvolver e ganhar oportunidades diversas, todos – colaboradores e empregadores – sairão ganhando. O comprometimento é um dos maiores preditores para que as pessoas deem o seu melhor.

Diante de tudo isso, é fundamental que os gestores mostrem, apesar de todos os problemas e cenários pessimistas, que as pessoas são o principal ativo e que são os responsáveis pela recuperação da empresa – é o que comentamos no artigo sobre o capital humano na crise. Por conta do cenário atual, muitos colaboradores estão preocupados em saber se continuam na empresa nos próximos dias ou não, por isso é ainda mais importante reforçar o valor da gestão de pessoas neste momento, é uma forma de passar segurança e de estabelecer relações de confiança. Esse vínculo, aliás, deve ser fortalecido, a fim de manter a sustentabilidade dos negócios, também em tempos de crise.

+ Mostrar que as pessoas estão no centro do negócio é ainda mais relevante nesse momento de crise. Reforce a sua marca e os vínculos de confiança com os colaboradores participando dos rankings das Melhores Empresas Para Trabalhar!

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1 comentário

  • Postado por: Claudia Minamoto •

    Sempre muito bons e pertinentes os artigos vindos da Great Place to Work, parabéns Prof. Lina! Nesse momento de crise o que se sente falta nas organizações é a valorização do capital humano. Estamos passando por uma prova de sobrevivência dentro das empresas, primeiro do próprio negócio, depois das “cabeças”. A ameaça é constante. Se o negócio não sobreviver, ou, à medida que possa ficar desestabilizado, as pessoas são ameaçadas direta ou veladamente de que vão perder seus empregos. É uma vulnerabilidade que mexe com os nervos de qualquer um. E, assim, é posta à prova a cultura e valores de uma organização. É na crise que se vê o real caráter da empresa, e das pessoas que nela estão inseridas. Qual característica que realmente prevalece e ressalta quando se trabalha sob pressão? Quando cada um, desde o alto escalão, precisa escolher entre a sua cabeça ou a do outro, entre a manutenção dos seus benefícios ou a divisão humana e solidária deles? Máscaras vão cair…No fim das contas, esse cenário “sem filtro” que vai se revelar será o seu fator de permanência numa empresa, ou mesmo, ser um termômetro se não está na hora de você mudar e ser um humano melhor para colaborar em manter pessoas na sua organização.

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