Por: Guilherme Gobato

Sócio-fundador e Consultor pela Diálogos Entre Nós | Diversidade e Inclusão

Por: Guilherme Gobato

Sócio-fundador e Consultor pela Diálogos Entre Nós | Diversidade e Inclusão

18 fevereiro, 2021 • 12:20

Olhar-se no espelho é, para além de vermos uma imagem refletida, deparar-nos com algo que nos é semelhante, que representa nosso exterior e que nos aproxima (ou mesmo nos distancia, em certos casos) do que a sociedade inicialmente pode perceber sobre nós mesmos.

Imaginemos olharmos para as imagens que nos cercam no mundo e percebermos que não se assemelham, não dialogam conosco, tampouco nos representam. Do que estou falando? Meu convite é para pensarmos em representatividade como pilar estratégico para inclusão de diversidades.

Para tanto, pensemos quantas grandes obras de arte da história da humanidade trazem a imagem de pessoas negras como centro de suas representações? Indo um pouco mais além, como mulheres negras em particular são representadas? E quantas pintoras negras, na atualidade, têm seus trabalhos reconhecidos? Neste sentido, ressignificarmos nossos olhares diante de padrões históricos eurocentrados é, fundamentalmente, questionarmos desigualdades socialmente construídas com as quais convivemos ainda hoje.

Meu olhar em artes foi repensado quando tive contato com algumas das releituras da artista cubano-americana Harmonia Rosales. Ela defende a importância de jovens negras sentirem-se representadas em grandes obras e retrata mulheres negras onde originalmente encontram-se apenas pessoas brancas. Destaco duas de suas obras: ‘O Nascimento de Oxum’, em alusão ao clássico ‘O Nascimento de Vênus’, de Botticelli; e ‘A criação de Deus’, em referência ao afresco pintado por Michelangelo, ‘A criação de Adão’.

Logo, representatividade, quando se fala em inclusão de diversidades, é algo fundamental para espelharmos a demografia de nossa sociedade nos amplos espaços de poder que frequentamos. Pensemos quantas mulheres estão em posição de liderança, seja na esfera privada seja na pública, e qual a parcela que corresponde a mulheres negras e indígenas. Sobre isso, aliás, vale destacar aqui a notícia recente da nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala, a primeira mulher, negra e africana a dirigir a Organização Mundial do Comércio (OMC). Um passo importante para o tema da representatividade e que reforça o quão importante esse conceito é. Mais do que isso, reforça o quanto outros grupos são sub-representados, afinal quantas pessoas trans, por exemplo, participam com igualdade de oportunidades dos acessos sociais que pessoas cisgêneras usufruem com mais facilidade? E pessoas com deficiência, quantas? E a diversidade geracional, religiosa, cultural, como tudo isso está na foto?

As eleições municipais em 2020 obtiveram representatividade recorde de pessoas trans eleitas para vereadores: dados da ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) apontam 30 candidaturas trans eleitas para a legislatura em questão. Por outro lado, 900 munícipios brasileiros não elegeram nenhuma mulher para suas Câmaras Municipais, ainda que mulheres representem 52,5% do total de eleitores do País. O total de vagas preenchidas por elas (16%) contrasta com os 52% de mulheres que formam a maioria populacional do Brasil.

A busca por representatividade de grupos minorizados não deve ser confundida com o perigo de uma história única, tão bem narrado pela escritora nigeriana Chimamanda Adichie. Tampouco podemos acreditar que a inclusão de umas poucas pessoas negras,  LGBTs, mulheres ou com alguma deficiência por si só possa dar conta da representatividade necessária para grupos minorizados como todo. Este aspecto de inclusão, quando pensa-se alcançar representatividade sem a devida proporcionalidade demográfica do grupo que se busca incluir, mostra-se superficial ao longo do tempo. A essa ação, digamos, ineficaz dá-se o nome de tokenismo, que poderá ser melhor explorado em artigo futuro.

Por último, incluir diversidades diz muito sobre mover esforços para que a demografia populacional esteja devidamente e proporcionalmente espelhada nos espaços de poderes em sociedade. Deixo aqui algumas perguntas para reflexão: quantos professores negros e negras já passaram em nossas vidas? Qual a raça, etnia e gênero dos principais estudiosos em determinados campos da ciência? Quais são as pessoas com as quais mais nos relacionamos? Olhar o mundo ao nosso redor, questionarmos quão representativo é e o que pode ser feito para expandir e incluir diversidades são pontos fundamentais para avançarmos nesta pauta. Sigamos juntos!

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Confira mais artigos de Guilherme Gobato sobre diversidade:

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+ Orgulho LGBTQIA+: um chamado por menos armários e mais amor
Vida digital: o novo normal para quem?

 

Crédito da imagem: Ornament photo created by freepik – www.freepik.com

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