Ainda considerada um tabu, a saúde mental das mulheres não é amplamente comentada e discutida. No mês em que celebramos o Dia da Mulher, a equidade de gênero é mais discutida, mas sabemos que é necessário falar e defender a temática o ano inteiro.
Também é fundamental destacar que entendemos que nem toda identidade de gênero se enquadra na dicotomia homem/mulher, e este artigo não exclui a validade de quem se identifica com outros gêneros.
Como está a saúde mental das mulheres?
Pesquisas recentes sugerem que as mulheres são mais propensas a problemas psicológicos, como depressão e ansiedade, o que parece refletir não apenas questões de ordem hormonal, mas também social. Existem estereótipos de longa data em torno das diferenças de gênero que foram imersos em nossas sociedades e culturas.
O Women’s Health Research Institute da Northwestern University aponta que as mulheres são mais propensas do que os homens a se sentirem estigmatizadas por procurar assistência com um problema de saúde mental. Como resultado, muitas vezes a aderência ao tratamento está prejudicada e os sintomas tendem a se manter.
O desenvolvimento de problemas de saúde mental geralmente é uma combinação de genética e o papel e a experiência que a pessoa tem na sociedade. Gêneros diferentes têm experiências muito diferentes. A combinação dos dois pode influenciar como os problemas de saúde mental se desenvolvem.
A pesquisa também mostrou que existem diferenças significativas entre os gêneros quando se trata do desenvolvimento de transtornos de saúde mental comuns. Estes incluem transtornos alimentares, transtorno de estresse pós-traumático, depressão e ansiedade.
Tomemos como exemplo a depressão, um dos distúrbios de saúde mental mais comuns com os quais alguém pode lutar. Duas vezes mais mulheres experimentam depressão em algum momento de suas vidas quando comparadas aos homens.
Diferenças de gênero, genéticas, sociais e econômicas desempenham um papel no desenvolvimento da depressão nas mulheres, o que determina prejuízos funcionais e sofrimento psíquico.
E nos ambientes de trabalho?
A questão aqui é: o que isso tem a ver com gestão e ambiente de trabalho? Seguem abaixo 3 dados e fatos que ilustram essa relação.
1. Em 2021, 1 em 3 mulheres considerou largar seu trabalho ou reduzir tempo de trabalho
Em uma pesquisa realizada pela McKinsey and Co. foi identificado um aumento no número de mulheres que consideram sair do ambiente de trabalho, ou, ao menos, reduzir a carga horária. Em 2020, esse indicador era de 1 em 4.
2. Termos como cansada psicologicamente e cansada mentalmente foram recorde de buscas no Google em 2021
Além disso, segundo o levantamento do Google, o termo “cansada” está sendo 5 vezes mais buscado do que o termo “cansado” desde 2015 no Brasil.
3. 42% das mulheres dizem que se sentiram frequentemente ou quase sempre esgotadas em 2021, em comparação com 32% há um ano.
No mesmo relatório já mencionado da McKinsey and Co., em comparação com as mulheres (42%), 35% dos homens afirmaram sentir-se com burnout, mostrando que esse esgotamento também é mais comum no público feminino.
Após entendermos (brevemente) o cenário, é de extrema relevância trazermos algumas dicas para como as empresas podem buscar prevenir o adoecimento mental de todas as pessoas, mas aqui falaremos especificamente das mulheres.
Como as empresas podem contribuir para a saúde mental das mulheres?
1. Reavalie as normas do ambiente de trabalho
Busque entender como é a nova realidade dos(as) colaboradores(as), tanto quando falamos de trabalho remoto quanto de trabalho híbrido. É fundamental o restabelecimento dos limites entre vida pessoal e profissional, e isso é válido especialmente para mães ativas no mercado de trabalho (e pais também).
Como o cumprimento de jornadas duplas e triplas (ou mais!) impactam diretamente na saúde mental das mulheres, é importante que as empresas identifiquem os desafios enfrentados por suas colaboradoras e contribuam de forma ativa para um maior equilíbrio entre as diversas responsabilidades dessas mulheres.
A partir desse entendimento, crie novas normas de trabalho que estejam em sintonia com esse novo contexto.
2. Invista em desenvolvimentos periódicos sobre saúde emocional
Também uma boa prática, inclusive para a redução do estigma da temática, é a oferta de programas de desenvolvimento ou workshops sobre o assunto com foco nas vivências e especificidades da saúde emocional das mulheres.
Quanto mais se fala sobre, mais é possível a identificação de melhorias de processos e promoção de benefícios que façam sentido para todas as pessoas colaboradoras da empresa.
3. Comunique o que está disponível
Comunicação é a chave de qualquer programa e/ou mudança. Portanto, comunique sobre os benefícios que oferece aos colaboradores e incentive o uso dos mesmos. Caso tenha benefícios específicos para as mulheres, é ainda mais importante apresentá-los e reforçar a disponibilidade desses serviços para que as colaboradoras os aproveitem e se sintam verdadeiramente acolhidas pelas políticas organizacionais.
E lembre-se de que comunicação é uma via de duas mãos, por isso, mantenha um canal sempre aberto para também receber críticas e feedbacks!
4. Conte com dados quantitativos, mas não se esqueça da importância dos qualitativos
Dados quantitativos como pesquisas compostas de questionários estruturados e perguntas fechadas são excelentes. Taxas de engajamento com programas de benefícios também. Mas não se esqueça da coleta de dados qualitativos!
Afinal, para agir de forma eficiente é necessária a compreensão do contexto como um todo.
E aí, como a empresa que você trabalha lida com a questão da equidade de gênero e saúde mental? Participe da nossa pesquisa sobre Boas Práticas de Saúde Mental e compartilhe com a gente as suas experiências!