
Como está a segurança psicológica da sua empresa?
De 2022 para 2024, a nota média da afirmativa “Este é um lugar psicologicamente e emocionalmente saudável para trabalhar” caiu de 87 para 83 entre as empresas que figuram no ranking das Melhores Empresas para Trabalhar, segundo o GPTW. Uma queda de 4 pontos em dois anos — sendo 3 pontos apenas de 2023 para 2024.
Isso escancara um alerta: o bem-estar emocional no ambiente de trabalho está sob pressão — e esse desafio precisa ser enfrentado com seriedade e estratégia.
Mais do que uma tendência, esse tema se tornou também uma obrigação legal. Com a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), em vigor desde 2022, toda empresa deve avaliar os riscos psicossociais no ambiente de trabalho. Ou seja, garantir um espaço psicologicamente saudável deixou de ser apenas uma boa prática de gestão de pessoas — passou a ser uma exigência legal.
“No nosso segmento é muito comum trabalharmos até altas horas e estarmos à disposição do cliente até de madrugada.” — Escritório de Advocacia
“O cliente que atendemos nunca está feliz, nosso colaborador é diretamente impactado por isso.” — Empresa de Serviços
“Meu colaborador não pode se ausentar do trabalho, pois atrapalha toda a operação.” — Operador Portuário
Essas frases são exemplos reais e refletem o que escuto com frequência nas devolutivas da pesquisa GPTW. São sinais claros de ambientes sob pressão constante, nos quais o emocional muitas vezes fica em segundo plano. Por trás dessas falas, há desgaste, ansiedade, sobrecarga — e uma percepção de que cuidar da saúde mental ainda é um luxo, não uma prioridade.
Como reforçar a segurança psicológica no trabalho?
Para elaborar um plano de ação efetivo, duas perguntas precisam ser feitas:
- a empresa já oferece o básico necessário para apoiar seus colaboradores?
- o que pode ser feito a mais, de forma intencional, para apoiar emocionalmente quem está na linha de frente?
Comece pelo básico
Parece simples, mas muitas empresas ainda não garantem condições mínimas para que seus colaboradores trabalhem com dignidade. Antes de propor qualquer inovação em bem-estar, é preciso assegurar:
- ferramentas adequadas para execução das tarefas;
- vale-alimentação compatível com o custo de vida local;
- plano de saúde que atenda às necessidades reais dos colaboradores e suas famílias;
- respeito às férias, pausas e licenças;
- espaço para descanso e políticas de saúde mental claras.
Sem isso, qualquer tentativa de ação diferenciada será vista como superficial ou compensatória — e pode até gerar frustração.
Vá além: ofereça apoio real em momentos críticos
Poucas empresas conseguem ir além do básico e criar verdadeiras experiências de cuidado. Um exemplo que vivi foi quando trabalhei na Disney. Em períodos de pico, como o fim e o meio do ano, a empresa promovia pequenos gestos que faziam toda a diferença:
- no inverno, distribuía chocolate quente nas áreas de descanso.
- no verão, oferecia sorvete isotônico para os colaboradores se reidratarem.
Lembro-me de um dia em que o parque estava em lotação máxima. Fazia um calor absurdo, o dia tinha sido caótico e exaustivo. Quando fui para a sala de descanso, encontrei sorvetes e pizza nos esperando — os mesmos que eram servidos aos clientes. Era como se alguém tivesse parado para pensar: “Eles também merecem esse cuidado.” Tenho até foto desse momento.

Simples? Sim. Mas profundamente simbólico.
Mais recentemente, vivi algo parecido aqui mesmo no GPTW. Minha irmã estava grávida e precisei acompanhá-la em alguns compromissos. Em um dos dias, tive que cancelar algumas agendas para levá-la ao pronto-socorro.
Minha liderança não apenas compreendeu, como me apoiou ativamente, fazendo com que tudo fosse o mais natural possível. Aqui, um dos nossos maiores benefícios é a flexibilidade real — e ela se mostrou presente quando eu mais precisei.
Continuei entregando com a mesma qualidade, mas pude estar com a minha família num momento de urgência, sem culpa e com total apoio.
Esses gestos — sejam eles físicos, como uma pizza, ou culturais, como a compreensão e o suporte — transmitem uma mensagem clara: “Você é importante e estamos aqui por você.”
É isso que diferencia uma empresa que cobra entrega de uma que também entrega cuidado.
Como esperar que nossos colaboradores criem experiências memoráveis para os clientes se a própria organização não faz o mesmo por eles?
Cultura de cuidado: começa dentro, ecoa fora
No GPTW, temos uma máxima: “Somos o nosso melhor case”. E essa frase costuma gerar uma pergunta direta de muitos clientes: “O GPTW é, de fato, um Great Place To Work?”
Sim, somos. E isso se reflete em nossa cultura, decisões e na forma como tratamos tanto nossos times, quanto os nossos parceiros. Aplicar uma pesquisa de clima não é só medir satisfação — é identificar os pontos de atenção para cuidar melhor das pessoas.
Ser um lugar psicologicamente saudável para trabalhar é mais do que um diferencial competitivo. É uma responsabilidade organizacional e legal. E é, sobretudo, um compromisso com quem sustenta a operação todos os dias: as pessoas.
Quer transformar esse desafio em vantagem competitiva?
Comece ouvindo de verdade quem trabalha com você. Cuidar da saúde emocional no trabalho é urgente — e a sua empresa pode liderar essa mudança.
Se esse artigo despertou reflexões sobre a sua empresa, aqui vão algumas indicações para continuar essa jornada de cuidado e transformação. Comece pelo livro “O Trabalho Protege”, da Great People Mental Health — ele mostra com sensibilidade e profundidade como o trabalho pode ser parte da solução, e não do problema, quando o assunto é saúde mental.
Recomendo também o diagnóstico da pesquisa de clima do GPTW, que vai além dos números: ele revela histórias, sensações e necessidades do seu time, e é a base para um plano de ação verdadeiramente humanizado.
Outros conteúdos que valem a pena:
- 📺 TED Talk: “The Power of Vulnerability”, da Brené Brown — um clássico sobre empatia e conexão no trabalho.
- 📘 “Organizações que Curam” – um olhar mais humano e estratégico para a cultura organizacional.
- 🎧 Podcast Autoconsciente – episódios sobre esgotamento emocional, equilíbrio e sentido no trabalho.
Agora que pude compartilhar um pouco sobre a importância da segurança psicológica no trabalho, gostaria de convidar você a conhecer mais a fundo a pesquisa do GPTW e entender como nossa metodologia pode intensificar o cuidado com as pessoas.