Um pouco de história + 4 dicas para começar a trabalhar com dados.
Em uma manhã qualquer de 1900, o senhor Antônio, mais conhecido como Toninho, abre as portas da mercearia Bom Tempo para mais um dia de trabalho.
Fundado por ele mesmo, o negócio iniciou suas atividades alguns anos antes, atendendo quase que sem concorrência, aproximadamente 500 pessoas moradoras de uma pequena vila com pouco mais de 15 anos de idade. Era também esse o tempo de funcionamento da mercearia.
Lá tudo tinha. De latas a tecidos, era difícil seu Toninho “ficar devendo” algum produto para a freguesia. Aprendeu desde cedo com seu pai, também comerciante, que nada valia mais do que a alegria de um cliente satisfeito por encontrar o que procurava na hora que mais precisava. Por isso, trabalhava muito para atender da melhor maneira aquele grupo de pessoas. O que nem sempre era fácil, considerando seu contexto.
No começo, não era raro acontecer de alguns fregueses deixarem a mercearia frustrados por não encontrarem algo, fato que também deixava o comerciante bastante chateado.
Com o tempo, para tentar resolver esse dilema, ele passou a anotar os pedidos e as encomendas, a fim de solicitá-las e entregá-las assim que chegassem à mercearia. No entanto, percebendo certa recorrência nos pedidos feitos, começou a encomendar quase tudo antecipadamente.
Como às vezes comprava coisas demais e outras de menos, decidiu registrar o comportamento de suas vendas. Começou então a marcar numa caderneta as entradas e saídas de produtos. Quantidade e preço, nada muito sofisticado. Depois, passou a identificar com um asterisco as mercadorias que os clientes mais compraram e com um “xis” aquelas que as pessoas não compravam tanto.
Com essas informações ele já conseguia ter um pouco mais de clareza sobre quais e quanto dos produtos deveria comprar a fim de que não sobrasse nem faltasse no estoque.
Mais tarde, passou a registrar os dias da semana e os horários que as pessoas mais frequentavam a mercearia. Com isso conseguiu observar, por exemplo, que às segundas pela manhã, praticamente o mesmo grupo de clientes ia para comprar os mesmos tipos de produtos (e nas mesmas quantidades!). De posse dessa informação criou e ofereceu um serviço de entrega na porta (super vanguardista para a época) e ainda pôde organizar uma melhor disposição dos produtos na mercearia, já deixando separado e já pesado o que era mais vendido.
Seu Toninho passou a anotar tudo que pudesse lhe ajudar a melhorar a satisfação das pessoas: Quais eram os produtos mais solicitados? Quais eram os menos pedidos? Quantas vezes eram pedidos e por quem? Quais eram os produtos preferidos de seus clientes? O que eles falavam do produto? Quanto tempo eles levavam para comprar e em quais quantidades?
Além disso, estava em constante questionamento: Será que as pessoas vêm mais cedo para comprar itens de café da manhã? Por que os tecidos delicados e finos são encomendados no meio do ano? Será que isso tem a ver com a estação do ano em que a roupa será usada?
Do questionamento mais evidente ao mais absurdo, não importava! Seu Toninho anotava e pensava formas de responder estas dúvidas coletando mais informações.
Se um cliente ia até a mercearia e não tinha algo, ele anotava. Era comum testar pedindo unidades de um mesmo produto a mais de um fornecedor, registrando o tempo de entrega, preço ou a qualidade do que recebeu, conseguindo assim identificar quem era o melhor fornecedor de cada tipo de mercadoria.
Seu Toninho agora coletava informações já não mais em uma, mas em algumas cadernetas: a dos produtos, a das preferências dos clientes, a dos registros de fornecedores e por aí vai.
Usava as informações para levantar questionamentos que o ajudavam a predizer comportamentos lançando mão das informações que tinha disponíveis para tentar entender alguns padrões, e assim melhorar sua oferta, se mantendo sempre um passo à frente e se destacando na comunidade mesmo quando o mercado local se tornou bem mais competitivo.
A história, fictícia, de seu Toninho nos mostra que ainda que intuitivamente, lá em meados de 1900, ele já estava coletando e utilizando dados para tomar as decisões de seu negócio em prol de seu propósito maior de ver os clientes saírem satisfeitos por terem encontrado o que procuravam na hora que mais precisavam.
Ela inclusive, poderia ser facilmente trazida para o contexto atual, claro que com uma “pequena” diferença de proporção considerando o espaço tempo em que vivemos.
Imagine o seguinte: se antes um comerciante como ele atendia a toda uma população local, quase sem concorrência, na era da internet ele certamente teria um alcance bem maior e outras empresas disputando o mesmo espaço, caso tivesse uma loja virtual, por exemplo.
Com isso possivelmente o volume de clientes, produtos, e informações seria muito maior e claro que não caberiam mais em cadernetas, certo?
O que queremos destacar com essa história é que os dados sempre estiveram entre nós. Agora em muito mais volume e velocidade, fato, mas eles sempre estiveram aqui.
As antigas cadernetas de seu Toninho, por exemplo, deram lugar aos grandes “data lakes”, ou bases de dados, hoje alimentados não só por uma pessoa que anota todas as informações, mas, por sistemas coletores que fazem isso sem parar o tempo todo gerando planilhas e gráficos com informações (dados) e mais informações (dados).
E esse é o movimento que acontece em toda parte, incluindo os nossos trabalhos. Nesse caso, disfarçados com nomes bonitos como People Analytics, eles estão espalhados por todas as camadas organizacionais, sendo muitas vezes sub-utilizados, seja por falta de conhecimento ou de acesso.
O fato é que embora muita gente repudie ou não os compreenda, dados são vitais para nortear nossas tomadas de decisão da maneira mais imparcial e efetiva possível. E essa necessidade se amplia ainda mais quando pensamos no atual contexto, cada vez mais volátil, incerto, complexo e ambíguo (isso para não falar frágil, ansioso, não linear e incompreensível).
Na era da informação, capturar dados a fim de realizar análises sobre pessoas, por exemplo, é um importante aliado para proporcionar a melhoria das soluções dentro das empresas e assim impactar diretamente seus resultados.
A partir de dados, como eNPS, avaliação de desempenho, avaliação de clima, turnover e diversos outros, é possível enxergar o impacto de ações ou atuações mais ou menos eficientes, além de perceber lacunas de desenvolvimento e assim atuar de maneira mais estratégica para cobri-las.
Claro que estes são apenas alguns exemplos que demonstram a importância de tratarmos esta pauta em nossa agenda. E esse é um processo que demanda o desenvolvimento de novas habilidades, como é o caso do “pensamento analítico e a inovação”, apontada pelo Fórum Econômico Mundial como a principal necessidade de desenvolvimento para todo profissional até 2025.
A história de seu Toninho nos mostra que muitas vezes, desenvolver habilidades para trabalhar com dados pode ser bem mais simples do que geralmente nos é apresentado. Com um espírito questionador movido pelo propósito e focado na melhoria da oferta, é possível começar a agir e consequentemente colher resultados. Pensando nisso, organizamos 4 dicas que podem ajudar:
1. Aprenda a questionar
Definir o que se quer responder, fazer perguntas e levantar hipóteses é o começo de tudo. Por isso gaste um tempo pensando sobre as respostas que precisa. Se você é líder de uma equipe e precisa melhorar o engajamento das pessoas, vale entender, por exemplo:
- Como foi a nota da pesquisa de clima?
- Quais os pontos sinalizados como maiores oportunidades? Eles são apenas de sua área ou refletem a média de toda a organização?
- Onde estão os pontos mais positivos? Como eles se destacam da média geral?
- Como o clima de sua área está com relação a outras áreas da empresa?
A dica é saber fazer perguntas certas será essencial para buscar as melhores informações nos canais mais adequados.
2. Mapeie suas fontes de dados
Uma vez que você já tem um rol de questões a serem respondidas, comece a identificar suas fontes de dados e onde elas estão alocadas. Pode ser que algumas delas estejam alocadas em outras áreas da companhia, por isso vale entender como ter acesso a elas e atuar para isso junto aos seus parceiros internos.
3. Comece com o que tem
Não espere a iniciativa “Gestão de dados 4.0” para começar. Muitas vezes as respostas que você precisa estão naquele bom e velho controle em excel.
4. Aprenda mais sobre o tema
Conhecimento nunca é demais, por isso, busque aprender mais sobre o assunto pesquisando conteúdos sobre o tema e ainda se conectando com pessoas que podem te auxiliar nessa jornada de desenvolvimento.
Como você viu, os dados permeiam a nossa existência e hoje, mais do que nunca, eles são vitais para a boa gestão de uma empresa. Nesse sentido, investir no desenvolvimento de habilidades que permitam que as pessoas utilizem esse importante aliado será fundamental para a sobrevivência de profissionais e empresas do agora e do futuro.
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