A jornada de trabalho é um instrumento relevante para o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Por impactar o bem-estar das pessoas, gera reflexos na empresa, como melhoria do clima organizacional, redução da rotatividade e crescimento do desempenho.

No Brasil, o modelo de 8 horas diárias foi introduzido pelo Governo Getúlio Vargas em 1932. Desde então, mudaram as opções disponíveis em lei e as práticas de gestão de pessoas.

Para entender quais são as abordagens modernas para a jornada, continue a leitura. Preparamos este guia sobre a importância e a aplicação da flexibilidade nas empresas!

Sobre a jornada de trabalho

A jornada de trabalho é a quantidade de horas que a pessoa disponibiliza para a organização. Essa carga é exercida com limites diários e semanais, devendo permanecer abaixo do nível previsto na CLT.

Historicamente, as horas de trabalho são rígidas em relação ao tempo, por exemplo:

• 8 horas diárias e 44 horas semanais;
• 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso.

Como parte da compreensão da importância de cuidar das pessoas para alavancar os resultados organizacionais, novas abordagens surgiram.

Entenda o que é jornada de trabalho flexível

A flexibilidade é a permissão para a pessoa escolher a maneira como cumprirá sua carga horária. É uma liberdade que pode ser concedida em diferentes graus, da total autonomia até escolhas entre opções pré-definidas.

Imagine, por exemplo, que uma empresa adote a semana de 4 dias ou permita que as pessoas montem seus horários ao longo da semana. 

Em ambos os casos, deixamos o modelo de 8 horas diárias para trás, investindo em novas opções de jornada para oferecer mais tempo livre para as equipes.

A legislação brasileira sobre a jornada de trabalho flexível

A legislação brasileira regulamenta diferentes limites e oferece mecanismos para flexibilizar a jornada de trabalho. Com isso, as empresas têm segurança jurídica para realizar as mudanças.

Banco de horas

O banco de horas é um sistema em que o excedente da jornada em um dia é acumulado para ser trocado por períodos de descanso. Esse mecanismo permite que a pessoa aumente o serviço em períodos de alta demanda para reduzir horários ou ter dias de folga em outros momentos.

Compensação de jornada

A compensação de jornada é um modelo mais simples, destinado para descansos concedidos no mesmo mês dos serviços. Nele, existe um acordo em que a pessoa prestará as horas extras, recebendo o descanso correspondente nos dias seguintes.

É uma solução que pode ser negociada, no dia a dia, entre lideranças e liderados.

Tempo parcial

As jornadas de tempo parcial são modelos com o total de horas semanais ou diários reduzidos:

• 30 horas semanais — sem a possibilidade de horas extras;
• 26 horas semanais — com até 6 horas extras por semana.

A empresa tem liberdade para adotar qualquer volume de trabalho abaixo dos limites legais. Por exemplo, nada impede a contratação de um profissional por 6 horas diárias.

Nesse contexto, a vantagem do tempo parcial é a autorização legal para pagamento proporcional. É possível, portanto, que a mesma função tenha remunerações diferentes, porque uma pessoa está sob o regime diferenciado de horas reduzidas.

Acordos coletivos e convenções coletivas

Além da redução da jornada de trabalho, a flexibilidade pode ocorrer com mudanças nos horários de entrada e saída. O modelo adota a quantidade de horas totais similares à jornada comum, mas a pessoa pode prestar o serviço de diferentes maneiras.

Para formalizar esse tipo de negociação, o ideal é buscar um acordo ou uma convenção coletiva. O acordo coletivo resulta da negociação entre contratante e sindicato dos colaboradores. Já as convenções alcançam categorias de pessoas trabalhadoras e pessoas empregadoras.

A importância de oferecer flexibilidade na jornada de trabalho

A origem dos limites de jornada de trabalho são as reivindicações sociais do movimento operário inglês, no século XX. Sua lógica é a divisão equitativa dos períodos do dia:

• 8 horas de trabalho;
• 8 horas de lazer;
• 8 horas de descanso.

Desde então, diversas mudanças ocorreram no mercado de trabalho:

• novas formas de trabalho e profissões;
• aumento das distâncias até o trabalho pela facilitação no transporte;
• trabalho remoto por meios eletrônicos;
• aumento da conscientização sobre saúde mental e bem-estar dos trabalhadores;
• surgimento de novas tecnologias que automatizam tarefas.

Um aspecto-chave é entender as pessoas não mais como recursos, mas como parceiras da organização. Quando investimos em saúde, bem-estar e qualidade de vida, esses stakeholders estarão mais preparados para oferecer desempenho e inovação com o uso de suas competências e experiências.

A jornada de trabalho precisa se adaptar para lidar com esse novo contexto nas empresas.

Saiba como funciona a jornada de trabalho flexível

A jornada flexível é aplicada com alterações nos horários de trabalho. Sua característica é não haver um único jeito de frequentar o trabalho, com opções que fogem ao modelo tradicional de 8 horas diárias em um período fixo.

Horário-núcleo

Uma prática comum é buscar um horário-núcleo. Nele, a expectativa é que a equipe esteja presente no ambiente de trabalho, simultaneamente.

As pessoas podem, por exemplo, concluir a jornada pela manhã ou pela tarde, mas podem ter a presença exigida das 13h às 15h. Assim, o horário-núcleo permitiria alinhamentos de equipe e outras tarefas coletivas.

Trabalho remoto

As jornadas flexíveis podem ser adotadas no trabalho remoto e híbrido. Quando uma pessoa exerce suas tarefas de casa, pode ser difícil controlar as entradas e saídas. Por isso, a autonomia para cumprir os horários se torna uma opção interessante para as empresas e colaboradores.

Os benefícios da jornada de trabalho flexível

O trabalho flexível é uma alternativa que oferece vantagens para pessoas e empresas.

Para os colaboradores

As pessoas podem buscar um equilíbrio mais adequado entre vida pessoal e profissional. Também é possível se planejar para adotar um horário mais confortável, conforme o perfil (matutino ou vespertino) e o trânsito até o trabalho.

Muitas abordagens permitem que o grupo tenha mais tempo livre. Por exemplo, a pessoa pode adotar um modelo para emendar períodos livres, como sair mais cedo na sexta-feira ou trabalhar mais em alguns dias para ter uma folga extra.

Tudo isso possibilita uma gestão de tempo mais eficiente, em que cada um buscará os melhores horários para trabalho, lazer e descanso. Por isso, as jornadas flexíveis aumentam a satisfação e o bem-estar das pessoas no trabalho.

Para a empresa

As empresas vivenciam os reflexos da saúde e bem-estar das pessoas no trabalho:

• aumento da motivação e engajamento;
• crescimento da produtividade;
• mais iniciativa para criatividade e inovação;
• permanência de talentos;
• redução do absenteísmo e melhoria da saúde ocupacional.

O investimento na hora de trabalho também pode ser otimizado a partir da flexibilidade. Os bancos de horas, por exemplo, permitem que as pessoas atendam momentos de alta demanda, sem gerar custos com horas extras. Posteriormente, podem recuperar as energias com dias de folga.

Os tipos de flexibilidade

As abordagens mais comuns na atualidade são o modelo livre, variável e fixo variável.

Livre

O modelo livre prevê uma carga horária semanal, e a pessoa monta os horários como desejar. É uma opção comum no home office.

Variável

A abordagem variável coloca um leque para opção durante a semana. Por exemplo, a organização pode prever inícios às 7h, 9h e 10h, permitindo que a pessoa opte quando iniciará a jornada e, consequentemente, seu término.

Fixo variável

O fixo variável conta com uma parte da jornada fixa e outra que pode ser cumprida nos horários desejados. Por exemplo, a empresa pode prever que as pessoas devem estar na organização entre 10 horas e 15 horas, deixando a opção por cumprir o restante, chegando mais cedo ou saindo mais tarde.

Aplicação da jornada de trabalho flexível

A implantação da jornada flexível pode ser dividida em 5 etapas.

Diagnóstico

A equipe de RH entenderá quais são as funções que admitem flexibilidade.

Escuta

As pessoas devem ser escutadas para entender o interesse e levantar possibilidades de flexibilização.

Desenho

Os tipos de flexibilidade e os horários disponíveis são desenhados conforme os dados coletados.

Formalização

O plano é levado ao sindicato para que seja possível formalizar a solução em um acordo.

Implementação

As novas jornadas são adotadas, usando sistemas de controle de ponto para fazer o acompanhamento e compensações necessárias.

Conheça o ranking de jornadas flexíveis do GPTW

Por ser uma tendência de gestão de pessoas, o ranking mais recente do Great Place to Work® estabeleceu uma categoria específica para empresas com boas práticas de flexibilidade. Assim, você pode se inspirar no benchmark das Melhores Empresas para Trabalhar ao promover avanços internos.

Entre as características, as organizações que lideram o ranking de Jornada Flexível apresentam 91 pontos na Pesquisa de Clima Trust Index™. Essa pontuação está 21 pontos acima do requisito para receber a certificação GPTW.

Além da jornada flexível, as empresas adotam a prática de redução de jornada sem diminuição de salários (50% das empresas) e modelos de trabalho híbrido (96% das empresas). Ademais, 100% das premiadas cuidam da saúde mental dos colaboradores.

Sendo assim, a jornada de trabalho flexível é um modelo que pode impactar positivamente a sua empresa. Por ser experimentado em diferentes contextos e em organizações bem-sucedidas, é uma estratégia válida para quem precisa promover a satisfação das equipes e potencializar os negócios.

Gostou deste conteúdo? Saiba mais sobre o assunto acessando o nosso Ranking de Jornadas Flexíveis do GPTW. Neste estudo, reunimos as respostas das empresas com os resultados e impactos das jornadas flexíveis. Confira!