O efeito halo é um dos vieses inconscientes que comprometem a tomada de decisões nas empresas. Sua presença é vista quando uma pessoa ou situação é julgada com base em uma ou poucas características. Com isso, somos levados a uma decisão pouco acurada.
Para lidar com esse desafio, romper com análises superficiais é o primeiro passo. É importante usar diferentes fontes de informação, preferencialmente independentes entre si. Isso permite compor um quadro geral consistente para entender cenários e fazer escolhas.
O efeito halo é um risco para o negócio, pois afeta a tomada de decisões. Mas existem maneiras de amenizar o seu efeito, impactando positivamente o negócio e a gestão de pessoas. Continue a leitura!
O que é efeito Halo?
O efeito halo é o julgamento do todo a partir de uma ou pouquíssimas características. Preenchemos o que é ambíguo ou desconhecido com as características identificadas à primeira vista. Com isso, criamos uma noção enviesada sobre pessoas e situações.
É uma visão que acaba afetando a tomada de decisão. Dentro das empresas, esses vieses podem influenciar na contratação de pessoas, na promoção, no reconhecimento e em toda a jornada de um funcionário.
Daniel Kahneman, em “Rápido e Devagar: Duas formas de Pensar”, apresenta um teste psicológico que ajuda a encontrar o efeito halo, desenvolvido por Solomon Asch.
Teste o efeito halo
Avalie qual das pessoas abaixo você gosta mais a partir das características apresentadas:
- Alan: inteligente — esforçado — impulsivo — crítico — obstinado — invejoso;
- Ben: Invejoso — obstinado — crítico — impulsivo — esforçado — inteligente.
Para a maioria das pessoas, o teste leva à conclusão que “Alan” seria a pessoa mais agradável. No entanto, as características apresentadas são idênticas, com exceção da ordem.
O efeito halo atuaria, em primeiro lugar, preenchendo o que não sabemos sobre uma pessoa. Usamos os dados prévios para completar o cenário, ainda que sem evidências adequadas. É o caso, por exemplo, de uma pessoa competente no trabalho ser imaginada, automaticamente, como boa para os familiares.
Igualmente, o viés opera para decidir sobre a ambiguidade. Kahneman explica que palavras de duplo sentido são interpretadas conforme o contexto. No teste, as palavras “inteligente” atribuída a “Alan” e “invejoso” atribuída a “Ben” no começo contextualizam o restante.
A consequência é o termo “obstinado” gerar sensações diversas. Afinal, uma pessoa invejosa e obstinada é diferente de uma pessoa inteligente e obstinada.
Como o efeito Halo impacta sua empresa e colaboradores?
O efeito Halo nos faz aceitar ou rejeitar conclusões sem um embasamento adequado. Ações que partem dessa decisão terão mais chances de não serem acuradas diante dos fatos.
Imagine a seleção para uma posição de liderança da equipe, como o cargo de supervisão. Se focarmos em um número limitado de características, podemos deixar lacunas de competência passarem despercebidas.
Um exemplo é julgar a entrega de tarefas na posição anterior como indício de habilidades de gestão. Há pessoas que são excelentes individualmente, mas são pouco hábeis em fazer o time apresentar um alto desempenho.
Decisões também podem ser inconsistentes quando características negativas são usadas como base para julgar o restante. É um viés frequentemente chamado de “efeito horn”.
Considere que um vendedor não conseguiu concluir uma negociação tida como fácil para a equipe. Esse erro pontual pode ficar na mente das pessoas e gerar avaliações negativas sobre suas competências.
O efeito horn é uma referência a colocar chifres na pessoa como se ela virasse uma criatura má. Já o halo seria a auréola do anjo, com o falso julgamento a partir de uma característica positiva. Ambos colocam em risco a tomada de decisão.
Preconceitos e efeito Halo
Ao abordarmos características culturais e sociais, o efeito Halo pode ser intensificado por viés preconceituoso. Pessoas de grupos sub-representados (pessoas com deficiência, LGBTI+, negros, mulheres) são socialmente julgadas e marginalizadas.
O viés capacitista, machista, racista e homofóbico, por exemplo, faz com que o efeito halo dê início a uma construção negativa da percepção de determinadas pessoas. Para a escritora Cida Bento, essa é a base para a construção do “Pacto da branquitude”.
O Pacto da branquitude define que as pessoas tendem a escolherem, defenderem ou concordarem com aquelas que mais se lembram de si mesmas. Não é um acordo formal, feito de forma consciente, mas sim mobilizada pelos vieses preconceituosos da sociedade.
Desta forma, percebemos que o efeito halo afeta diretamente a diversidade nas empresas. Isso pode ser representado pela dificuldade da empregabilidade trans nas organizações, assim como a desigualdade de gênero nos salários e funções.
Como evitar o efeito halo?
O aperfeiçoamento consiste em tomar decisões de forma menos automática. Pensando de forma mais ponderada e racional, podemos estabelecer protocolos com providências para mitigar vieses.
Analise todas as variáveis dos processos
A mitigação do efeito halo começa com a ampliação das evidências utilizadas para decidir. Precisamos preencher lacunas e resolver ambiguidades não com as características à primeira vista, mas com fundamento em informações concretas.
Boas evidências virão de múltiplas fontes e terão independência entre si. Por exemplo, uma avaliação 360º tende a ser mais proveitosa que a verificação apenas pela liderança. Teremos perspectivas da liderança, colegas e da própria pessoa para desenhar um cenário realista.
Desde que as pessoas responsáveis não se comuniquem antes de realizar o procedimento, haverá pontos de vista diferentes e independentes.
Outro prática proveitosa é a pesquisa de clima organizacional. Essa ferramenta coleta a perspectiva de múltiplos colaboradores sobre o ambiente de trabalho. Logo, minimiza a ocorrência de vieses cognitivas.
A análise de big data é outra estratégia que pode diminuir a presença de vieses. Podemos usar dados anônimos para entender e projetar cenários, preenchendo as lacunas em nosso conhecimento sobre as situações.
Conte com uma gestão preparada
A gestão de equipes precisa estar ciente da existência de vieses e adotar protocolos que mitigam a sua ocorrência. Em grande parte, esse trabalho exige o desenvolvimento das competências de liderança.
Liderar exige habilidades específicas para influenciar e gerenciar pessoas. Assim, além do conhecimento técnico sobre finanças, contabilidade, direito, a depender do cargo, a pessoa precisa de soft skills.
Dê espaço e escute seus colaboradores
A abertura para escutar outros pontos de vista ajuda a cobrir lacunas no conhecimento e sanar ambiguidades. Devemos possibilitar que a equipe tenha oportunidade de falar, de forma sincera.
Kahneman, por exemplo, sugere pedir que as pessoas anotem suas opiniões em um resumo antes das reuniões. Isso minimiza o efeito halo: os pontos de vista oferecidos serão menos influenciados pelo que já foi dito.
Mesmo quando a tarefa da gestão é dar o feedback, a escuta é fundamental. Quem recebe deve ter a oportunidade de falar sobre o ocorrido, sabendo que pode influenciar a decisão.
A liderança empática será importante nesse processo para criar o ambiente de confiança. Ainda que a opinião de membros da equipe não sejam adotadas, a empatia contribui com o reconhecimento da pessoa. Afinal, os pontos de vista foram realmente observados e considerados como parte do processo de decisão.
Isto é, um resultado menos enviesado virá do conjunto de visões, em vez de estar centralizado na figura da liderança.
Conscientize suas equipes sobre a cultura corporativa
A convivência nas empresas existe em um contexto com hábitos e valores estabelecidos, que formam a cultura da empresa. Para evitar que a pessoa tenha a imagem prejudicada, a transparência sobre essas normas não escritas é um passo importante.
Implementar a confiança como parte da cultura também é um fator que pode reduzir o efeito halo. Isso ocorre porque um ambiente seguro para falar e compartilhar pontos de vista reduz a necessidade de suposições enviesadas.
O fator decisivo é a comunicação interna. Gestão e equipes precisam abordar as questões, compartilhar dados, informações e argumentos. A decisão será uma construção dessa comunidade de trabalho.
Invista em Comitê de Diversidade
O Comitê de Diversidade é um importante mecanismo para estimular o pensamento diverso dentro das organizações. Por meio dele é possível criar estratégias e planos de ação para mitigar o preconceito.
Esse coletivo é formado por pessoas funcionárias que pertencem a um grupo minorizado e debatem a vivência destas pessoas dentro da empresa, propondo melhorias e ações que podem impactar positivamente todos os funcionários.
Como usar o efeito halo em favor da empresa?
Lidar com o efeito halo e outros vieses envolve autocomprometimento na tomada de decisão. Vieses são naturais no pensamento humano, e precisamos de protocolos adequados para mitigar seus riscos.
Parte do processo envolve preencher lacunas no conhecimento e sanar ambiguidades com a ampliação de evidências. Coletar dados, ouvir as pessoas, fazer uma opinião, não se contaminar pela outra e outras práticas serão relevantes para decisões mais equilibradas.
Em certos processos, vale a pena buscar informações fora da empresa. Auditorias, pesquisas de clima, consultorias e benchmarking podem descobrir pontos que não foram considerados e diminuir as decisões enviesadas.
O efeito halo sempre pode estar presente nas decisões humanas. Estar alerta e ser proativo em mitigar a sua ocorrência é o ponto-chave para tomar decisões mais adequadas.
Para entender como reduzir vieses para uma avaliação de desempenho mais justa, complemente esta leitura com o conteúdo “Entenda como funciona uma avaliação de desempenho”!
Em resumo
O que é efeito halo?
O efeito halo é o julgamento sobre uma pessoa ou situação a partir de pouquíssima informação. O que vimos à primeira vista molda nossa visão sobre o quadro geral.
Como lidar com o efeito halo?
O efeito halo pode ser mitigado com cuidados durante o processo de decisão:
- conscientize suas equipes sobre a cultura corporativa;
- dê espaço e escute seus colaboradores;
- conte com uma gestão preparada;
- analise todas as variáveis dos processos;
- conscientize suas equipes sobre a cultura organizacional.