No ambiente de trabalho, a pressão muitas vezes é inevitável. Metas, prazos e expectativas fazem parte do dia a dia, e as cobranças fazem parte desse cenário. No entanto, existe outro fator que pode impactar a produtividade e o bem-estar do colaborador: a autocobrança.
Além das demandas externas, a autocobrança pode se tornar um peso adicional que leva a pessoa a se impor a padrões elevados, nem sempre realistas, que podem gerar estresse, ansiedade e até o esgotamento.
A seguir, entenda como a autocobrança pode afetar a produtividade e o que pode ser feito para equilibrá-la no ambiente corporativo.
O que é autocobrança profissional?
O que leva um profissional a se cobrar tanto? Esta é uma pergunta cada vez mais frequente na mesa dos RHs e profissionais da saúde e bem-estar corporativo. A autocobrança profissional é um hábito, desenvolvido na carreira,de exigir continuamente resultados cada vez mais elevados, mesmo quando já estão atingindo padrões altos de desempenho.
Esse comportamento é marcado pela busca incessante por perfeição, metas difíceis de alcançar e uma constante insatisfação com os próprios resultados.
Embora possa parecer uma característica “atrativa” para o mercado de trabalho que ainda valoriza uma postura workaholic, esse tipo de autocobrança excessiva, quando não controlada, pode se tornar prejudicial e afetar tanto o bem-estar do profissional quanto a produtividade da equipe.
Até quanto a autocobrança é saudável?
A autocobrança profissional é saudável até o ponto em que serve como motivação para o crescimento e a melhoria contínua, sem gerar consequências para a saúde mental e o bem-estar do profissional.
Quando o membro usa a autocobrança para se manter focado em seus objetivos, aprender com os erros e buscar novas habilidades, ela pode ser uma força positiva no desenvolvimento de carreira.
No entanto, a linha entre o que é saudável e o que se torna prejudicial é tênue. De acordo com uma pesquisa realizada pela empresa de benefícios Pluxee, os brasileiros demonstram 9% mais insatisfação no trabalho em comparação à média global de profissionais.
Dentre os pontos destacados na pesquisa que poderiam estar impactando a insatisfação, fatores como falta de valorização, reconhecimento, oportunidades e ausências de inspirações no trabalho poderiam estar aumentando os resultados.
A partir do momento em que a autocobrança se transforma em uma constante insatisfação, na qual a pessoa nunca se sente boa o suficiente e está sempre preocupada com o desempenho. Essa cobrança afeta a autoestima e a causa problemas como estresse, ansiedade e esgotamento.
E é aqui que os problemas começam a ser desencadeados. Afinal, nesse ponto, o que era uma ferramenta para o progresso se torna uma barreira para o equilíbrio e a produtividade.
Como a autocobrança pode afetar os profissionais?
A autocobrança profissional pode gerar repercussões negativas na vida dos membros da empresa, por afetar tanto a saúde mental quanto a produtividade. Quando essa cobrança interna ultrapassa o limite saudável, ela desencadeia problemas emocionais e físicos, que comprometem o desempenho e o bem-estar.
Mas além de uma questão de saúde dos colaboradores e a promoção de um bom ambiente de trabalho, a autocobrança é um fator que, quando em desequilíbrio, pode afetar os resultados financeiros da empresa.
A partir do momento em que um ou mais membros passam a apresentar sinais de excesso de autocobrança, a sua produtividade — e a qualidade das suas entregas — é prejudicada.
Por fim, isso resulta em perdas financeiras, como destaca o estudo em que foi constatado que equipes infelizes geram perda de até 355 milhões de dólares ao ano.
Altos níveis de estresse
A pressão constante para alcançar metas cada vez mais elevadas leva ao estresse crônico. O profissional que se cobra além do razoável, vive em um estado de alerta contínuo, o que pode prejudicar sua capacidade de tomar decisões, reduzir sua concentração e afetar a qualidade do trabalho.
Do mesmo modo, o estresse prolongado também pode resultar em problemas de saúde, como insônia, dores de cabeça e aumento da pressão arterial.
Ansiedade
A autocobrança profissional excessiva está diretamente relacionada à ansiedade. O medo de não cumprir as expectativas que o próprio profissional estabeleceu para si gera uma sensação constante de preocupação e apreensão.
Esse estado de ansiedade pode afetar o desempenho diário, dificultando o foco nas tarefas e gerando um ciclo de insegurança que compromete a confiança no próprio trabalho.
Baixa autoestima
Quando o profissional não se permite reconhecer suas conquistas e foca apenas nas falhas ou nos pontos que ele considera insuficientes, a baixa autoestima se torna um problema recorrente.
Esse ciclo de autocrítica constante leva o profissional a acreditar que nunca é bom o suficiente, o que pode prejudicar seu crescimento na carreira e sua satisfação no trabalho.
Esgotamento mental e físico
O esgotamento mental e físico é uma consequência comum para quem vive sob a pressão da autocobrança. O profissional que se sobrecarrega de responsabilidades, sem dar espaço para descanso ou lazer, acaba experimentando um cansaço extremo, tanto emocional quanto corporal.
Esse esgotamento diminui a produtividade e pode levar a afastamentos temporários ou prolongados do trabalho.
Síndrome do impostor
A síndrome do impostor é um fenômeno psicológico no qual a pessoa, apesar de alcançar sucesso e reconhecimento em sua carreira ou vida pessoal, sente que não merece suas conquistas.
Quem sofre dessa síndrome acredita que seu sucesso é fruto de sorte ou circunstâncias externas, e não de suas próprias habilidades ou competência. Esse sentimento constante de inadequação faz com que a pessoa viva com o medo de ser “descoberta” como uma fraude, mesmo quando recebe feedbacks positivos e alcança bons resultados.
Síndrome de burnout
A síndrome de burnout é um distúrbio emocional causado pelo esgotamento físico e mental extremo, geralmente relacionado ao trabalho. Ela ocorre quando o profissional está sob pressão constante e prolongada, levando a uma sensação de exaustão, desmotivação e ineficácia nas atividades laborais.
Os principais sintomas incluem:
- Fadiga crônica;
- Distanciamento emocional;
- Sentimentos de incompetência;
- Baixa realização pessoal.
Assim, ela é o estágio mais grave do esgotamento causado pela autocobrança profissional. Esse quadro é caracterizado por sentimentos de desesperança, frustração e desmotivação, exigindo intervenções médicas e afastamento do trabalho.
Depressão
A autocobrança profissional constante pode levar à depressão, especialmente quando o profissional não consegue ver progresso ou satisfação em seu trabalho.
O ciclo de frustração e autocrítica pode gerar um estado de desânimo, desmotivação e perda de interesse pelas atividades, impactando profundamente a vida pessoal e profissional.
Autossabotagem
A autossabotagem é um comportamento inconsciente em que a pessoa cria obstáculos para o próprio sucesso, muitas vezes agindo de maneira contrária aos seus objetivos e interesses.
Esse padrão pode se manifestar de várias formas, como procrastinação, indecisão, falta de comprometimento ou a criação de desculpas para evitar responsabilidades. Ao acreditar que nunca conseguirão atingir seus padrões elevados, eles inconscientemente evitam oportunidades de sucesso, procrastinam ou tomam decisões que dificultam seu crescimento.
Absenteísmo
Um dos principais indicadores e resultados do RH, o absenteísmo pode ser um reflexo da autocobrança profissional excessiva. Profissionais que enfrentam altos níveis de estresse, esgotamento e ansiedade acabam se afastando mais do trabalho, seja por problemas de saúde, seja por falta de motivação.
O que os gestores podem fazer para ajudar os profissionais?
A liderança tem um papel estratégico na mitigação da autocobrança excessiva, por influenciar diretamente o comportamento e a saúde mental dos membros da equipe. A liderança afeta diretamente a autocobrança dos colaboradores por meio das expectativas, comportamentos e a cultura que estabelece dentro da equipe.
Quando os líderes definem metas claras, oferecem suporte contínuo e incentivam um ambiente de feedback construtivo, eles ajudam a moderar a autocobrança e evitar que ela ultrapasse limites saudáveis.
Isso significa que líderes que promovem um ambiente de alta pressão, sem reconhecimento ou suporte adequado, tendem a elevar os níveis de autocobrança profissional entre os membros da equipe. Os membros sentem que precisam se provar constantemente, o que pode levar à autocrítica exagerada, ao medo de falhar e ao esgotamento.
Desse modo, existem algumas ações que podem diminuir o surgimento deste sentimento nas equipes e promover um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo.
Evite fazer comparações entre os colaboradores
O efeito comparativo nas empresas é um comportamento comum, mas que não deve ser externalizado, incentivado ou mesmo motivado entre os membros de uma empresa. Comparar colaboradores pode gerar um ambiente competitivo negativo, elevando a autocobrança e criando tensão no local de trabalho.
Líderes podem acreditar que, ao aplicar comparações entre membros e seus resultados, estariam estimulando as equipes e promovendo uma competitividade interna produtiva. No entanto, nos cenários em que a autocobrança profissional já está sendo presente e que apresentam problemas de relacionamento entre membros, esta ação torna-se um grande problema.
Cada profissional possui habilidades e trajetórias únicas, e a gestão deve focar no desenvolvimento individual, valorizando o progresso e as contribuições de cada membro da empresa de forma personalizada.
Ao evitar comparações, os líderes promovem um ambiente de cooperação e crescimento coletivo, o que beneficia tanto o desempenho quanto o bem-estar da equipe.
Evite fazer pressão em cima do colaborador
Aqui é importante esclarecer a diferença entre “fazer pressão” e acompanhar os resultados e entregas de um membro da equipe. Acompanhar resultados significa monitorar o progresso dos colaboradores de maneira construtiva e oferecer feedback e suporte para alcançar metas.
Já fazer pressão é impor expectativas de forma excessiva e gerar estresse e autocobrança. Acompanhamento promove desenvolvimento e engajamento, enquanto a pressão pode prejudicar o bem-estar e a produtividade.
Pressionar demais os membros da equipe pode aumentar a autocobrança a níveis prejudiciais. Expectativas irreais ou cobranças constantes fazem com que os profissionais se sintam sobrecarregados e ansiosos por não atingirem os padrões exigidos.
O papel das lideranças deve ser equilibrar as demandas com suporte e garantir que o colaborador sinta-se encorajado, e não pressionado, a alcançar suas metas. Um ambiente com menos pressão favorece o bem-estar e melhora a produtividade.
Incentive os profissionais
O incentivo constante é uma das formas mais eficazes de combater a autocobrança negativa. Quando líderes reconhecem os esforços e os progressos dos colaboradores, eles contribuem para a construção de um ambiente positivo, no qual as pessoas se sentem valorizadas.
E alguns exemplos de ações são:
- Elogiar conquistas individuais, de equipe em reuniões ou comunicados internos;
- Oferecer bônus, prêmios ou dias de folga por resultados excepcionais;
- Fornecer treinamentos, workshops ou apoio para cursos que ajudem no crescimento profissional;
- Estabelecer planos de carreira claros dentro da empresa.
Incentivar profissionais a celebrar pequenas conquistas e enxergar o crescimento ao longo do caminho ajuda a reduzir a autocrítica e promove um engajamento maior.
Ofereça feedbacks contínuos
Se a autocobrança é uma distorção de expectativas elevadas, a prática de feedbacks regulares ajudam a alinhar expectativas, fornecendo uma visão objetiva do que está funcionando e do que pode ser melhorado.
Além de reduzir a incerteza, esses feedbacks contínuos permitem que os profissionais ajustem seu comportamento e metas, evitando a frustração causada pela autocobrança excessiva.
Ao saber exatamente onde estão em seu desenvolvimento e ter orientação clara, eles conseguem gerenciar melhor suas demandas internas e manter uma autocobrança saudável, focada no crescimento e na evolução, sem comprometer o bem-estar.
Estabeleça metas possíveis
Quando os objetivos são realistas e alinhados com as capacidades e o contexto de cada colaborador, há maior chance de manter a motivação e o foco no cumprimento das tarefas, sem gerar frustrações desnecessárias.
Metas inalcançáveis podem intensificar a autocobrança, pois os membros da equipe sentem que, por mais que se esforcem, nunca conseguem atingir os padrões exigidos. Isso leva ao estresse e ao esgotamento.
Por outro lado, metas possíveis e desafiadoras criam um ambiente mais saudável, no qual os profissionais conseguem visualizar seu progresso, celebrar pequenas vitórias e manter o engajamento.
A autocobrança profissional pode ser uma faca de dois gumes: embora possa motivar os profissionais a buscarem excelência, em excesso, ela se torna um fator destrutivo para a produtividade e o bem-estar.
Para o RH estratégico, é fundamental reconhecer os sinais de autocobrança profissional excessiva nas equipes e adotar medidas para promover um ambiente de trabalho mais equilibrado.
E incentivar uma cultura de apoio, estabelecer metas claras e oferecer feedbacks contínuos são passos importantes para ajudar os profissionais a encontrar o equilíbrio necessário entre o desempenho e a saúde mental.
Para saber mais sobre como o RH pode atuar de forma estratégica para melhorar o desempenho das equipes e equilibrar a pressão no ambiente de trabalho, acesse nosso conteúdo Produtividade no trabalho: qual o papel do RH e descubra as melhores práticas para promover um ambiente produtivo e saudável!
Em resumo
Quais são os principais impactos da autocobrança profissional?
A autocobrança excessiva pode levar a altos níveis de estresse, ansiedade, esgotamento mental e físico, e até problemas como a síndrome de burnout e depressão. Além disso, afeta diretamente a produtividade e a qualidade das entregas dos profissionais.
Quando a autocobrança deixa de ser saudável?
A autocobrança é saudável até o ponto em que ela motiva o profissional a crescer e melhorar. Porém, quando a busca por perfeição se torna uma fonte de insatisfação constante, gerando estresse e desmotivação, ela se torna prejudicial.
Como a liderança pode influenciar a autocobrança no ambiente de trabalho?
Líderes que promovem um ambiente equilibrado, com metas claras e feedbacks regulares, ajudam a moderar a autocobrança dos colaboradores. Ao evitar pressão excessiva e reconhecer os esforços da equipe, os líderes criam um ambiente mais saudável e produtivo.
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